O céu parecia mais denso, e o vento que soprou através da vasta paisagem tinha uma frieza cortante. Tang San e Ryouma permaneceram em silêncio por longos minutos após a partida da misteriosa figura, ambos imersos em seus próprios pensamentos. As palavras daquela entidade ecoavam em suas mentes, desafiando suas crenças e seus objetivos.
Ryouma foi o primeiro a romper o silêncio. Ele se virou para Tang San, o olhar endurecido pela frustração.
— Não podemos ficar parados aqui, esperando que tudo se resolva sozinho. Eu não sei o que aquela coisa queria, mas sei que nada que nos envolva será fácil. Precisamos agir, e agir rápido.
Tang San o olhou por um momento, com um olhar pensativo. Ele já sentia o peso da responsabilidade em seus ombros, mas algo no comportamento de Ryouma o deixava inquieto. O orgulho e a sede por poder estavam moldando as ações dele, e isso podia ser tanto uma vantagem quanto uma desvantagem. Ele sabia que Ryouma estava impetuoso, mas a situação exigia mais do que isso.
— Eu não estou esperando, Ryouma. Eu entendo o que está em jogo. Mas você tem que entender que simplesmente atacar ou buscar mais poder não vai resolver isso. Não é mais sobre sermos mais fortes. O que aquela entidade disse... tem mais a ver com o que vem a seguir, do que com o que fizemos até agora.
Ryouma olhou para Tang San, com um sorriso curto e sarcástico.
— E você acha que vamos esperar até o fim do mundo chegar? Eu não sou um santo, Tang San. E mais importante, eu não sou idiota. Se há uma guerra que está prestes a acontecer, então vamos fazer o que for necessário para não estarmos do lado errado dela.
A tensão entre eles crescia a cada palavra trocada, mas ambos sabiam que não podiam se dar ao luxo de brigar agora. O que quer que fosse que estivesse se aproximando deles, eles precisavam estar preparados.
Tang San balançou a cabeça lentamente.
— Eu não estou dizendo para não agir, Ryouma. Mas precisamos entender o que estamos enfrentando antes de correr para uma batalha que não sabemos se podemos vencer. Existe um lugar que podemos ir, onde talvez possamos aprender mais sobre o que está por vir.
Ryouma franziu a testa.
— E onde é esse lugar?
Tang San hesitou por um momento, antes de responder.
— A Caverna das Sombras. Fica ao norte daqui, nas Montanhas Escuras. Dizem que aqueles que procuram respostas, ou poder, podem encontrar algo lá, mas... também se diz que poucos retornam.
Ryouma não parecia impressionado.
— Outra caverna cheia de mistérios e perigo. Perfeito. Acho que isso é exatamente o que precisamos.
Tang San não reagiu à provocação de Ryouma. Ele sabia que o lugar era perigoso, talvez até mais perigoso do que qualquer coisa que eles já haviam enfrentado, mas também sabia que era o único caminho. Se quisessem entender o que estava realmente acontecendo, eles precisariam buscar respostas ali.
— Vai ser uma jornada difícil, Ryouma. Não será como qualquer outro lugar que você tenha visitado. A Caverna das Sombras não é apenas uma caverna comum. Ela é uma prisão de segredos e horrores, e só aqueles que têm o poder suficiente para resistir podem entrar e sair com suas mentes intactas.
Ryouma riu, mas o riso foi seco, sem alegria.
— Estou começando a achar que você é o tipo de pessoa que gosta de dar uma boa história, mas eu já vi coisas muito piores. Não sou novato nesse jogo. Se há algo que vale a pena lá, então vamos buscar.
Tang San ainda olhava para o horizonte distante, os pensamentos viajando por uma trilha sombria, mas inevitável. Eles tinham o poder, sim, mas ele também sabia que esse poder poderia ser seu maior inimigo.
A jornada até a caverna não foi fácil. As Montanhas Escuras eram conhecidas por sua geografia traiçoeira e as criaturas que habitavam suas florestas densas. O ambiente era sombrio, e a sensação de serem observados não os deixava em paz. Cada passo que davam parecia estar mais distante da segurança, e mais perto do desconhecido.
Enquanto subiam as trilhas íngremes, o ar começava a ficar mais pesado, a energia ao redor parecia turva, como se algo os estivesse puxando para dentro de uma realidade paralela. O silêncio era absoluto, com exceção dos sons dos próprios passos e da vegetação que estalava ao redor.
Ryouma, impaciente como sempre, tentou quebrar o silêncio.
— Sabe, Tang San, você tem alguma ideia do que podemos encontrar lá dentro? Ou vamos apenas caminhar cegamente, esperando que as respostas caiam em nosso colo?
Tang San não desviou o olhar do caminho à sua frente.
— O que sabemos sobre a Caverna das Sombras é quase nada. Apenas histórias passadas de geração em geração, que falam de um poder perdido, de uma presença que vive lá. Mas uma coisa é certa: ela tem um vínculo com as forças que estão se movendo no mundo, e talvez ali possamos descobrir algo que nos ajude.
— Se você acha que o que buscamos é uma resposta, tudo bem. — Ryouma disse, a irritação evidente na sua voz. — Eu só quero garantir que, quando chegarmos lá, não estaremos em desvantagem.
Tang San parou por um momento e olhou para Ryouma, com um olhar mais sério do que o habitual.
— A maior desvantagem que podemos ter, Ryouma, é não estarmos preparados para o que nos espera. A Caverna das Sombras pode ser mais do que imaginamos. E nem todo poder é seguro de se usar.
Ryouma apenas bufou, não disposto a discutir mais sobre aquilo. Ele preferia confiar na sua força e nas suas habilidades, em vez de se preocupar com o que era ou não seguro.
Depois de horas de caminhada, finalmente chegaram à entrada da caverna. As pedras ao redor eram negras, cobertas por uma musgo escuro que parecia absorver toda a luz ao seu redor. A entrada era pequena, quase imperceptível, e ao passar por ela, uma sensação gélida os envolveu. Era como se estivessem entrando no próprio ventre da terra.
A caverna era vasta, suas paredes se estendiam para além da visão de ambos. O único som era o eco de seus passos, e a atmosfera era densa, carregada de uma energia estranha que parecia se alimentar da própria escuridão. Algo estava os observando, mas não havia como saber o que era.
De repente, uma voz sibilante cortou o silêncio.
— Bem-vindos à Caverna das Sombras... Aqueles que ousam entrar aqui devem estar prontos para tudo. O que procuram, encontrarão, mas não sem custo.
A voz parecia vir de todos os lugares e de nenhum lugar ao mesmo tempo. A tensão no ar aumentou, e a jornada até a verdadeira compreensão do que estava por vir se tornava mais clara a cada passo.