O ar na Caverna das Sombras parecia pesar mais a cada passo que davam. O silêncio opressor, a atmosfera carregada de tensão e o eco dos próprios passos criavam uma sensação de claustrofobia, como se estivessem sendo observados por olhos invisíveis. A presença da figura enigmática ainda pairava no ar, como se ela tivesse deixado uma marca indelével no ambiente.
Tang San, mais atento do que nunca, manteve os sentidos alertas. Ele sabia que não poderiam confiar totalmente no que haviam ouvido até agora. O poder que a caverna prometia parecia ao mesmo tempo uma bênção e uma maldição, e ele não estava disposto a ser cegamente atraído para o abismo sem entender o que estavam realmente enfrentando.
Ryouma, por outro lado, parecia ainda mais impaciente. Ele já estava cansado das palavras enigmáticas e das advertências. Ele queria poder. Queria saber onde estava o caminho para se tornar ainda mais forte, e a Caverna das Sombras era o único lugar que poderia dar isso a ele.
— Não temos tempo para dúvidas, Tang San. — Ryouma falou, a voz baixa, mas firme. — Se aquela coisa queria nos avisar, ótimo. Mas eu não sou do tipo que fica esperando. Precisamos seguir em frente e conseguir o que viemos buscar.
Tang San olhou para Ryouma com uma expressão sombria.
— Eu entendo sua pressa, mas lembre-se, Ryouma, que o poder não é tudo. Às vezes, o que buscamos de maneira impetuosa acaba nos consumindo. E a caverna… ela não dá poder gratuitamente. Cada passo que damos aqui, cada decisão que tomamos, nos leva mais fundo em algo que não compreendemos totalmente.
Ryouma deu um sorriso cínico, sem responder de imediato. Ele não estava disposto a ouvir mais sermões sobre cautela. Ele já sabia o que queria e não tinha intenções de voltar atrás. Contudo, a tensão entre os dois se intensificava a cada segundo.
Eles seguiram em frente por mais alguns minutos, até que a caverna começou a se expandir à medida que entravam em uma nova área. As paredes começaram a brilhar com uma luz fraca, emanando de pedras negras que pulsavam como se estivessem vivas. O caminho à frente parecia infinito, e não havia nenhum som além do distante gotejar da água caindo em poças escuras no chão.
Quando chegaram a uma vasta câmara, algo incomum aconteceu. A luz da caverna se intensificou e uma sombra se estendeu à frente deles. Ela não era uma sombra comum, mas uma presença. Algo estava se aproximando, algo que sentia a aura de ambos, como se o destino os chamasse diretamente.
— Eu sabia que vocês viriam. — A voz profunda e grave cortou o silêncio, fazendo com que ambos os jovens se virassem imediatamente, preparados para o que quer que fosse. A presença à frente deles não era humana, mas algo... muito mais antigo.
A figura que surgiu diante deles era uma enorme entidade, de aparência fantasmagórica, com uma capa negra que se arrastava pelo chão como se tivesse vida própria. Seus olhos brilhavam com uma luz etérea, e uma energia antiga e densa emanava dela.
Tang San sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Ele sabia que aquilo não era uma entidade comum. Era um ser com poder além do que ele poderia imaginar.
— Quem é você? — Perguntou Tang San, sua voz firme, mas com uma tensão que não podia esconder.
A entidade sorriu, seus dentes reluziam como lâminas afiadas.
— Eu sou o Guardião da Caverna. Aquele que protege o poder escondido nas profundezas deste lugar. Aqueles que procuram mais poder devem primeiro entender o que é necessário para possuí-lo. O preço do poder é alto, e nem todos são dignos.
Ryouma, sem paciência, avançou um passo à frente, seu olhar determinado e sua postura imponente.
— Se você está aqui para nos impedir de buscar o poder, então venha tentar. Eu não sou alguém que se deixa intimidar por palavras vazias.
O Guardião riu de maneira baixa, mas sua risada tinha uma reverberação poderosa, que fez as rochas ao redor tremerem.
— Você, garoto, não sabe o que está dizendo. O poder que você deseja não é algo que possa ser conquistado apenas com força. O poder da Caverna das Sombras é algo que destrói e constrói em igual medida. Só os mais fortes podem sobreviver à sua verdadeira essência. E não, você não está pronto para isso.
Ryouma estreitou os olhos, sentindo a provocação em suas palavras. Ele estava prestes a responder, quando Tang San o deteve com um gesto.
— O que você quer dizer com isso? — Tang San perguntou, sua voz mais calma, tentando entender as intenções da entidade.
O Guardião olhou para ele com uma expressão enigmática.
— Você está em busca de poder, mas o que vai fazer quando esse poder começar a corroer sua alma? Você, Tang San, carrega em si algo muito mais forte do que qualquer força física. Você tem um destino. E esse destino o leva por um caminho tortuoso. Não adianta procurar poder, quando o que você realmente precisa é entender o que está em jogo. O poder que você busca pode ser a sua perdição.
Ryouma se agachou, colocando a mão na lâmina de sua espada, sua impaciência transbordando.
— Chega de enigmas. Eu já tomei a decisão. Vamos lutar.
Mas o Guardião não parecia ameaçador. Ele estava ali para provocar uma reflexão, não uma batalha direta. Ele sorriu novamente, uma expressão que não refletia nenhum tipo de bondade, apenas um entendimento profundo daquilo que estava prestes a acontecer.
— Se é o poder que vocês buscam, então que seja. Mas lembrem-se: tudo tem seu preço. Nada é de graça, e nem todos podem pagar.
Com um movimento elegante, o Guardião fez um gesto para o fundo da caverna, onde uma porta negra começou a se abrir lentamente, revelando uma sala mais profunda, escura e ainda mais imponente. Era a sala onde o verdadeiro teste começaria.
Tang San e Ryouma trocaram olhares. A decisão estava tomada, e embora soubessem que estavam entrando em território desconhecido, ambos sentiam que a resposta para suas jornadas estava ali.
— Vamos. — Tang San disse com firmeza, e com isso, ambos se dirigiram em direção à porta escura.
Enquanto caminhavam, o Guardião os observava com um sorriso sombrio.
— Boa sorte. Vocês vão precisar.
O eco de sua voz se espalhou pela caverna, preenchendo o ambiente com uma sensação de que algo estava prestes a se desdobrar — algo que nem mesmo eles poderiam controlar.