Capítulo – O Chamado da Linhagem
As neves do Norte nunca dormem. Nem mesmo no silêncio das madrugadas, quando o mundo parece suspenso entre os sussurros do vento e o ruído distante das criaturas que vivem entre véus.
Naquela noite, Kátyra despertou suada, a respiração entrecortada. O sonho havia voltado, mais vívido do que nunca.
> "Χάτυρα... Χάτυρα εἶ... Θυγάτηρ τοῦ Φωτός..."
Kátyra… Kátyra és… Filha da Luz…
A voz ecoava em sua mente como um trovão suave, carregada de poder e dor. Era a mesma voz das últimas noites, mas agora havia um nome diferente: Thygátēr tou Phōtós.
Ela levantou-se, ignorando os olhares dos guardas à porta do salão de inverno. Havia uma atração irresistível em direção aos limites do reino — ao Vale das Almas Adormecidas, onde nenhum sangue real havia pisado desde o tempo de Moira.
Caminhou sozinha até a cripta ancestral, onde as estátuas dos antigos se alinhavam como sentinelas esquecidas. Ali, entre espelhos cobertos por gelo eterno, encontrou um de cristal puro. Ao tocá-lo, ele a reconheceu.
No reflexo, viu todas as linhagens que habitavam seu sangue: o fogo dos Dragões, o sopro dos Grifos, a firmeza dos Ursos, a sombra dos Darxas… e algo mais. Um sexto traço, oculto, que pulsava em tons dourados.
Uma inscrição surgiu no espelho, em grego antigo:
> "Aquela que é de todas as casas será a última luz ou a primeira sombra."
Ela agora sabia: os Darxas buscavam o Coração de Éter, e seu sangue era a chave.