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Chapter 41 - Capítulo 41 – As Correntes do Destino

O deserto silenciado pela luz agora parecia um mundo esquecido. A tempestade de escuridão se dissipara, mas o rastro deixou por ela permanência como feridas abertas no tecido da realidade. Tang San se mantinha em pé com dificuldade, o corpo coberto de poeira e sangue seco, enquanto seus olhos encaravam a figura ajoelhada de Ryouma à sua frente.

O jovem de outro mundo respirava com dificuldade, tremores sacudindo seu corpo. O poder que o consumo parecia agora se desvanecer, mas não sem deixar sua marca. Seu espírito estava em frangalhos, rasgado entre a razão e a obsessão. E mesmo assim, algo nele ainda lutava.

— Está... tudo... errado... — Ryouma murmurou, os olhos perdidos no vazio.

Tang San foi mudado com cautela. Apesar de tudo o que havia acontecido, ainda via nele o garoto que conhecia. O guerreiro que havia salvo inocentes, treinado incansavelmente, que mesmo arrogante, tinha algo de honesto em seu âmago. Mas agora, diante dele, o que via era um espírito quebrado.

— Você se perdeu, Ryouma... — disse Tang San com voz baixa. — Mas não é tarde demais.

Ryouma chamou os olhos lentamente. Pela primeira vez em muito tempo, eles não estavam tomados pela sombra, mas também não tinham a nitidez de antes. Era como se estivesse preso entre dois mundos.

— Eu achei que sabia tudo, Tang San... Eu vim desse mundo acreditando que poderia manipulá-lo como quem lê um livro... mas esse mundo me engoliu antes que eu percebesse. —Sua voz tremia. — O sistema... ele continua sussurrando coisas pra mim... promessas... atalhos...

Tang San franziu o cenho.

— Seu sistema ainda está ativo?

Ryouma concordou com dificuldade. Então, como se respondesse à pergunta, uma janela translúcida piscou diante de seus olhos, visível apenas para ele:

[ Sistema "Arkanum" Ativo ][Status Mental: Instável][Recalibrando parâmetros emocionais...][Novo objetivo: Reconstrução da Vontade]

Ryouma rangeu os dentes, as mãos cravadas na areia. — Ele está me tentando "reconstruir". Como se eu fosse só uma engrenagem que precisa ser consertada...

— Você não é uma ferramenta — Tang San respondeu, firme. — Nem para esse sistema, nem para ninguém.

O vento soprou frio, trazendo com ele uma nova presença. Do nada, uma figura encapuzada surgiu à margem do deserto, os pés flutuando moderadamente acima do solo. Um manto negro cobria seu corpo, mas dele emanava uma energia diferente — nem luz, nem trevas, mas um equilíbrio inquietante.

— Vocês chegaram longe demais para recuarem agora — disse a figura, a voz ecoando como se fosse falada em vários tempos ao mesmo tempo. — A escolha foi feita. E as correntes do destino já os arrastaram.

Tang San e Ryouma se viraram ao mesmo tempo, alertam.

— Quem é você? —Tang San perguntou.

A figura não respondeu de imediato. Ela transparente a mão, e o próprio solo do deserto pareceu reagir, criando imagens translúcidas no ar. Cenários passados, cenas futuras — momentos de caos, guerra e escuridão — surgiram e desapareceram como fumaça.

— Eu sou aquele que vigia as intersecções. O Elo Quebra-Ciclo. E vocês dois estão prestes a romper o equilíbrio de toda a história deste mundo.

Tang San franziu o cenho.

— Você está falando dos acontecimentos de Douluo Dalu?

A figura inclinou-se levemente para a cabeça.

— O que chamam de Douluo Dalu é apenas uma linha entre milhões. E o que chamam de destino é, na verdade, o acúmulo das vontades mais fortes. Quando duas vontades como as de vocês colidem... algo deve ceder.

Ryouma se declarou com dificuldade, seus olhos ainda incertos, mas uma centelha começou a reaender.

— Está dizendo que... se eu continuar nesse caminho, posso destruir a ordem natural?

— Não — respondeu o Elo Quebra-Ciclo. — Já destruiu. A simples existência de alguém que conhece o futuro distorcido o presente. E agora, tudo está se remodelando ao seu redor. Você deixou de ser um visitante. Tornou-se um pilar de instabilidade. A escolha não é mais sobre o que fará... mas sobre o que pretende carregar até o fim.

Tang San virou o rosto lentamente para Ryouma. A desconfiança em seus olhos se misturava com um pesar crescente. Ele não poderia ignorar mais. Ryouma não era apenas um companheiro de viagem. Ele era uma ameaça... talvez maior do que qualquer um jamais enfrentaria.

— O que você quer fazer, Ryouma? —Tang San disse, sem rodeios. — Vai continuar lutando contra tudo, ou vai encontrar um novo caminho?

Ryouma cerrou os punhos.

— Eu... quero entender. Quero dominar esse sistema, e não ser dominado por ele. Quero superar esse mundo pelas minhas próprias mãos, não como um predador... mas como alguém que merece o trono que almeja.

O Elo Quebra-Ciclo deu um passo leve para trás, e seu corpo começou a se esvanecer como poeira ao vento.

— Então, será provado.

Com isso, ele desapareceu. E no instante seguinte, o chão estremeceu. Uma fenda se abriu à frente dos dois, revelando uma escadaria de pedra descendo para as profundezas do mundo. Do interior, uma aura antiga e indescritível se reserva — algo além de qualquer força espiritual conhecida. Não era apenas energia. Era história cristalizada .

Uma voz soou em suas mentes, não vinda do Elo, mas do próprio mundo:

"Aquele que desejar refazer o tecido do destino... deverá enfrentar as Provas dos Sete Véus."

Ryouma olhou para Tang San. Pela primeira vez, não havia confronto entre eles. Havia dúvida. Houve o início de uma nova fase — mais complexa, mais obscura.

E enquanto ambos desciam juntos, lado a lado, havia apenas uma certeza:

O que quer que encontrassem lá embaixo mudaria tudo.

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