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Chapter 21 - Capítulo 21 – Ecos de Sangue e Silêncio

A alvorada nasceu tímida naquele dia. O céu ainda se refazia dos efeitos colaterais da fissura espiritual aberta por Ryouma. Nuvens tingidas de vermelho se amontoavam como feridas cicatrizando no firmamento. No centro da cratera formada pela explosão, Shin Ryouma permanecia em pé, como uma estátua esculpida pela própria guerra.

Sua aparência havia mudado.

Seu corpo era mais esguio, mas absurdamente denso em energia. As runas negras do Desespero Primordial estavam agora fundidas à sua pele, como se fossem parte de seu sangue. Seus olhos carregavam um brilho dourado sobrenatural, tão intenso que era quase impossível encará-los diretamente. Mas o mais perturbador não era o que havia mudado por fora — era o silêncio ao seu redor.

Não havia mais aura espiritual sendo emitida.

Não havia mais pulsação mágica perceptível.

Ele havia se tornado... invisível espiritualmente.

Lan Mu, ainda se recuperando, sentia um calafrio percorrer sua espinha. Ele conhecia os maiores cultivadores do continente. Já tinha visto aberrações de poder. Mas nada... absolutamente nada... como aquilo.

— Você conseguiu mesmo... — murmurou, a voz ainda rouca. — Você assimilou parte daquilo.

Ryouma se virou lentamente, seu olhar vazio como o de uma criatura antiga.

— Não consegui tudo. Ainda há fragmentos espalhados… aguardando o próximo chamado. Mas agora sei como encontrá-los.

— E o que você pretende fazer com esse conhecimento? — Lan Mu perguntou, sem levantar-se.

— Evoluir.

Uma única palavra, dita sem raiva, sem pretensão. Apenas… como uma verdade absoluta.

Mas antes que Lan Mu pudesse dizer qualquer coisa, uma nova presença se fez sentir.

Tang San.

Com passos firmes e silenciosos, o gênio da Seita Tang apareceu à borda da clareira, os olhos semicerrados, observando a destruição e, mais importante, a figura de Ryouma no centro dela. Ele vinha investigando as oscilações espirituais anormais havia dias. E agora estava ali, diante da fonte.

Os olhos de Tang San não mostraram surpresa. Mas mostraram algo raro: cautela.

— Então era você — disse calmamente, descendo alguns passos pelo desnível. — A fonte dessa perturbação.

Ryouma olhou para ele com curiosidade quase entediada.

— Tang San… finalmente nos encontramos.

Tang San franziu levemente a sobrancelha.

— Já me conhece?

— De muitos modos. — Ryouma respondeu, com um sorrisinho discreto.

A tensão entre os dois era palpável. Como trovões aguardando o clarão do relâmpago.

Tang San fez o que poucos fariam: ativou discretamente o controle do Céu Misterioso, para avaliar a energia de seu oponente. Mas… nada. Nenhuma aura. Era como olhar para o vácuo.

— Você não é um espírito mestre comum.

— Nem você. — Ryouma respondeu de volta. — O Martelo do Céu Claro… está bem escondido, não está?

Os olhos de Tang San se arregalaram, mesmo que por um breve instante. Mas naquele microgesto, Ryouma confirmou: estava certo.

Tang San voltou a se recompor imediatamente.

— Não sei do que você está falando.

— Eu sei que você tem dois espíritos marciais. Como eu.

Essa afirmação fez Lan Mu arregalar os olhos também.

Tang San cerrou os punhos por instinto. A informação sobre seu segundo espírito era segredo absoluto. E ainda assim… aquele estranho garoto havia descoberto.

— Quem é você? — perguntou, agora com a voz carregada de gelo.

— Alguém que ainda não tem lugar neste mundo. Mas que em breve terá. — Ryouma disse, virando-se e começando a se afastar.

— Espere. — Tang San avançou um passo. — Por que veio até aqui? O que está buscando?

Ryouma parou. Ficou em silêncio por um instante. Então, sem se virar, respondeu com uma tranquilidade inquietante:

— Estou procurando a ruína. E vou encontrá-la, mesmo que precise arrastar cada um de vocês comigo.

E então, com um passo, desapareceu.

No topo de uma colina próxima, oculto por camadas de névoa espiritual, o Ancião Bai da Seita Coração de Ferro observava o cenário através de uma técnica de visão espiritual avançada. Ao seu lado, um velho de aparência jovial, com vestes azuis e olhos afiados como lâminas, murmurava:

— Este garoto… ele não pertence a esse tempo.

— Nem a este mundo. — respondeu Bai, com a voz grave. — E isso o torna perigoso demais para ser ignorado.

— Vamos monitorá-lo?

— Vamos caçá-lo.

Na sede da Seita Tang, Grandmaster Yu Xiaogang segurava um pergaminho antigo. Seu rosto, geralmente calmo, agora exibia uma ruga de preocupação.

— Desespero Primordial... esse nome não era ouvido desde a Guerra dos Três Reinos Espirituais. — murmurou. — Se alguém está mesmo usando esse espírito, então a maré do mundo pode começar a mudar.

Ele fechou os olhos.

— E Tang San… meu discípulo… estará no centro disso tudo.

Enquanto isso, no subterrâneo de uma antiga floresta esquecida, Ryouma medita em meio a um círculo de runas flutuantes, cicatrizando sua alma com a ajuda do sistema.

Sistema de Crescimento Absoluto – Núcleo Estável.Integração: 23% da Entidade do Abismo armazenada.Resistência mental aumentada. Capacidade de absorção espiritual ampliada.Conceito desbloqueado: "Sangue que Aprende."A partir de agora, o corpo memoriza golpes sofridos e adapta estruturas internas para resisti-los.

Ryouma sorriu.

Cada derrota, cada dor, cada batalha.

Ele se tornava mais forte.

E ele sabia… o confronto com Tang San era inevitável.

Mas não seria agora.

Ele ainda precisava aprender mais. Crescer mais.

Ou destruir mais.

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