A floresta dos ossos eternos foi deixada para trás. Restavam cinzas, fragmentos de energia flutuando como poeira luminosa no vento. Shin Ryouma caminhava agora por um desfiladeiro oculto, oculto mesmo nos mapas espirituais mais avançados — um lugar que nem mesmo os mestres titulados ousavam explorar. O Sistema o guiava com precisão cirúrgica.
Destino alcançado: Entrada para o Submundo Espiritual Menor.Atenção: acesso permitido apenas mediante aprovação de entidade residente.Condição especial desbloqueada: presença do fragmento "Desespero Primordial". Compatibilidade reconhecida.
Ryouma parou diante do que parecia uma simples fenda entre as rochas. Mas ao tocar sua superfície com a palma da mão, um tremor percorreu o chão. A pedra derreteu como cera diante de calor invisível, revelando um portão feito de ossos entrelaçados com fios de alma.
E ali, gravado em uma língua que não pertencia ao mundo mortal, estava um aviso:
"Aqueles que olham para o abismo devem estar prontos para ouvir o que ele sussurra."
Sem hesitar, Ryouma atravessou.
O mundo ao outro lado era cinza.
Cinza absoluto. Nem luz, nem sombra. Um lugar onde o tempo parecia existir por misericórdia e não por lógica. O chão era líquido, mas suportava peso. O ar era sólido, mas podia ser respirado. Tudo parecia errado. Naturalmente... errado.
Ali, o silêncio tinha peso.
E então, vieram as vozes.
— "Mais um… veio se perder?"— "Não. Este... carrega as marcas."— "O hospedeiro despertou."
Ryouma não reagiu de imediato. Mas sua pele formigava. O Sistema se ativou por conta própria.
Presença de Entidade Superior detectada.Nome: "Aquele que Chora Entre os Mundos".Classe: Espírito Ancião do Abismo.Conexão parcial com o Desespero Primordial estabelecida.Recomenda-se cautela absoluta.
Um vulto surgiu à frente.
Não tinha rosto. Não tinha corpo. Era um contorno humanoide feito de memórias distorcidas, como se mil pessoas diferentes fossem comprimidas em uma única existência. E quando falou, Ryouma sentiu suas próprias lembranças se contorcendo.
— Shin Ryouma. Nome forjado. Alma transplantada. Vontade quebrada. Corpo moldado pela mão da guerra. És estranho a este mundo, mas não a mim.
Ryouma respirou fundo, cerrando os punhos.
— Você me conhece?
— Eu conheço todos os que carregam o Eco da Ruína. Tu és o primeiro em milênios a sobreviver à fragmentação.
— O fragmento do Desespero Primordial.
— Um dos sete. E agora… está preso a ti.
Silêncio.
Ryouma deu um passo à frente.
— Diga-me o que é isso. Diga-me por que o Sistema me escolheu. Quem me trouxe para este mundo?
O ser riu. Mas o riso não era sonoro. Era feito de sensações. Medo, saudade, dor… tudo vibrava ao redor dele.
— O Sistema não te escolheu. Você o roubou.
Ryouma sentiu o mundo girar.
— Como assim?
— Na sua morte… uma brecha foi aberta. Uma lacuna entre realidades. Aqueles que existem fora da Criação tentaram usá-la. Mas tua alma se agarrou à sobrevivência com tal ferocidade… que tomou algo que não deveria tomar. O Sistema… era de outro.
Ryouma caiu de joelhos.
As memórias de sua morte retornavam lentamente. O som dos tiros. A dor. O cheiro de pólvora. O calor nos pulmões. E… um sussurro. Um nome que não era seu. Uma interface que surgira antes mesmo que ele abrisse os olhos neste novo mundo.
Ele havia invadido algo.
— O Sistema é um parasita? — murmurou.
— É um instrumento. Uma arma forjada para moldar. Mas agora está contaminado… por ti.
Ryouma sentia o peso da informação. Mas ele não cedeu.
— Então me diga como usá-lo completamente.
— Hahahah… ousado.
— Eu não quero só sobreviver. Eu quero destruir. Eu quero reescrever este mundo. E você… é o primeiro que pode me mostrar como.
O ser ficou em silêncio por longos segundos. Então estendeu um braço feito de sombra sólida.
— Há um preço.
— Qual?
— Deixe-me ver o que você viu.
Ryouma hesitou. Mostrar suas memórias? Mostrar tudo? Seus anos no mundo moderno, seu treinamento, sua família, suas perdas… os segredos de Douluo Dalu que apenas ele sabia?
Mas ele não tinha tempo para medo.
Ele pegou a mão do espírito.
E o mundo… explodiu.
Um redemoinho de lembranças, imagens, mapas, livros, nomes.
Tang San.
Bibi Dong.
Shrek.
As Guerras do Continente Douluo.
Os Quatro Céus.
O Deus da Destruição.
Tudo.
O ser absorveu cada fragmento.
E ficou em silêncio.
Longo demais.
Até que uma gargalhada distorcida ecoou por todo o Submundo.
— Hahahahaha… Ah, criança! Agora entendo! Você é o maior erro deste mundo! A semente da anomalia!
Ryouma cambaleou para trás, ofegando.
— Diga-me… o que você viu!?
— Vi o fim. Vi você matando deuses. Vi você rasgando os pilares do Douluo. E vi você… morrendo para ele.
— Ele?
— O verdadeiro portador do Sistema.
Ryouma congelou.
— Está vivo?
— Está… vindo.
Silêncio.
E então, o espírito estendeu a outra mão. Nela, uma esfera púrpura com anéis dourados girava lentamente. Uma chave.
— A porta para o Fragmento Número Dois. Mas cuidado, Shin Ryouma… os próximos fragmentos te mudarão. Quanto mais forte você ficar, menos humano será.
— Isso nunca me deteve antes.
O espírito sorriu — um sorriso que só podia ser sentido na alma.
— Então vá. E lembre-se: você é o que não devia existir. Seja o erro que destrói tudo.
Do outro lado do continente, Tang San abriu os olhos em choque. Sua mão sangrava espontaneamente.
Algo havia tocado sua alma.
— Aquele garoto… ele acabou de cruzar um limite proibido.
Na sede da Seita Espírito Celestial, uma criança com olhos de arco-íris olhava para o céu, sorrindo.
— Finalmente te encontrei, invasor.
E nas profundezas do Submundo Espiritual, Ryouma partia com um novo objetivo. Um novo fragmento. Um novo caminho.
Mas algo havia mudado.
Agora, o Sistema não apenas o auxiliava.
Agora… ele falava.
Usuário Shin Ryouma. Estado: Evolução em andamento.Caminho selecionado: "Errante da Ruptura".Meta final: Destruição da Trama Original.