A terra tremia sob os pés de Ryouma, como se o próprio mundo estivesse reagindo ao despertar do Desespero Primordial. O ar parecia mais denso, carregado de uma energia caótica que ele mal conseguia controlar. Cada respiração que ele tomava parecia pesadas, como se estivesse inalando a própria essência do caos. A força que ele buscara com tanta intensidade agora o envolvia, e ele sentia o peso de suas escolhas se acumular sobre seus ombros.
Lan Mu estava parado à sua frente, seu olhar carregado de uma preocupação que Ryouma não sabia como interpretar. Mas, ao mesmo tempo, a presença do outro parecia mais distante, como se ele soubesse que qualquer tentativa de impedir Ryouma agora seria inútil. O dano já estava feito.
— O que você fez… — Lan Mu murmurou, mais para si mesmo do que para Ryouma. Sua voz estava cheia de pesar, como se a visão da destruição iminente estivesse quebrando algo dentro dele.
Ryouma, por sua vez, sentia a energia fluir através de seu corpo de forma incontrolável. Ele sabia que havia ultrapassado um limite, mas em vez de arrependimento, sentia algo mais. Algo que o excitava, que o fazia sentir-se mais vivo do que nunca. Ele podia sentir o poder fluindo através de seus músculos, percorrendo sua espinha, eletrificando suas extremidades.
A visão do mundo ao seu redor parecia distorcida, como se a realidade estivesse se curvando sob o peso de sua energia. O Desespero Primordial estava criando fissuras no espaço, pequenas rachaduras de energia que pareciam absorver tudo ao seu redor, como uma força que engolia o próprio tempo e espaço.
— Eu sou mais forte agora. — Ryouma disse, sua voz firme, mas com um tom de questionamento. — Isso não é o que você queria me alertar? Eu não sou mais o mesmo. E o mundo ao meu redor também não será.
Lan Mu não respondeu de imediato, seus olhos fixos no campo de batalha que se formava ao redor deles. Ele sabia o que vinha a seguir. O uso do Desespero Primordial não era algo que simplesmente desaparecia. Ele sabia que as repercussões viriam, e viriam com um preço alto. Um preço que Ryouma ainda não podia compreender completamente.
— Você tem razão. O poder que você tem agora é incomparável. Mas esse poder tem uma natureza destrutiva, Ryouma. Ele consome tudo. Não importa o quanto você tente controlá-lo, ele acabará dominando você. Não será apenas sua alma que será corrompida, mas tudo ao seu redor. — Lan Mu fez uma pausa, como se tentando encontrar as palavras certas. — O que você não vê é que, ao escolher esse caminho, você também escolheu a destruição, não apenas da sua humanidade, mas do equilíbrio do próprio mundo.
Ryouma franziu a testa, sentindo as palavras de Lan Mu martelando contra sua mente. Mas, ao mesmo tempo, algo em seu interior se recusava a ceder. Ele já havia dado esse passo. Ele não voltaria atrás.
— Eu não me importo com o equilíbrio. Eu não me importo com nada mais além do poder. — Ryouma respondeu, sua voz agora mais áspera, marcada pela frustração. — Eu sou o único que importa aqui. O que aconteceu comigo, as perdas que sofri… tudo isso me trouxe até aqui. E, agora, tenho o poder para garantir que nada mais me tire o que sou.
As palavras de Ryouma cortaram o ar como lâminas afiadas, e Lan Mu, por um momento, ficou em silêncio. Ele havia ouvido esses tipos de declarações antes, de pessoas que estavam cegas pelo desejo de poder. E ele sabia que, muitas vezes, esse caminho levava a uma queda inevitável.
— O caminho que você escolheu não é uma estrada de força. — Lan Mu disse, seus olhos olhando diretamente nos de Ryouma, como se quisesse alcançar algo que ele ainda não conseguia entender. — Você está sendo consumido, Ryouma. Esse poder, essa energia, tudo o que você busca… é só uma máscara. O verdadeiro custo vai ser mais do que você está preparado para pagar.
Mas, antes que pudesse dizer mais alguma coisa, algo inesperado aconteceu. O solo abaixo deles tremeu com uma intensidade ainda maior, e, de repente, uma fissura imensa se abriu no espaço, cortando o ar como uma lâmina afiada. A energia que Ryouma havia liberado agora parecia estar atraindo algo, algo que ele não podia prever.
Lan Mu foi o primeiro a reagir, seus olhos se arregalando à medida que a fissura se expandia. Ele havia sentido aquilo antes, mas nunca com tamanha intensidade. O que estava sendo liberado não era apenas energia. Era algo muito mais profundo, algo que não deveria ser liberado no mundo.
Ryouma não tinha tempo para processar completamente o que estava acontecendo. A energia do Desespero Primordial continuava a se expandir, mais rápida do que ele podia controlar. Ele olhou para Lan Mu, mas antes que pudesse fazer qualquer comentário, uma explosão de energia se propagou da fissura, criando uma onda de choque tão forte que ele foi lançado para trás, batendo contra uma rocha.
— Isso… o que é isso?! — Ryouma gritou, se levantando, seu corpo estonteado pela força do impacto. Ele olhou ao redor, mas o que viu o deixou paralisado de choque.
A fissura estava se expandindo, e de dentro dela começavam a emergir formas negras, como sombras distorcidas, que pareciam se contorcer e se multiplicar à medida que se aproximavam. O Desespero Primordial estava atraindo algo muito mais perigoso, muito mais antigo, e agora Ryouma sabia que havia ultrapassado uma linha que jamais deveria ter cruzado.
Lan Mu estava ao seu lado, agora sério como nunca antes, seu rosto sombrio. Ele olhou para Ryouma, e por um momento, o olhar de ambos se encontrou, cheio de uma compreensão mútua: eles estavam diante de algo que não poderiam controlar. Algo que agora os desafiava de maneira irreversível.
— Você destruiu o equilíbrio. Agora, o custo será pago. — Lan Mu disse, sua voz carregada de gravidade. Ele sabia que, se não fizessem algo imediatamente, o que havia começado com uma simples fissura de energia acabaria por se transformar em um cataclismo completo.
A batalha agora não era mais contra adversários físicos. O que se aproximava era algo que testaria os limites da própria existência de Ryouma.
E, ao olhar para as sombras que surgiam da fissura, Ryouma sabia que estava prestes a enfrentar a verdadeira consequência de suas escolhas.