Cherreads

Chapter 5 - Capítulo 5 – Chamas na Torre

A lua ainda pairava alta quando os gritos começaram.

Rayn acordou de sobressalto com o som de vidro se partindo — não comum, mas mágico. O tipo de estilhaço que fazia a alma estremecer. Em segundos, estava de pé, correndo pelos corredores da Torre de Vidro.

No andar inferior, encontrou Liora já com a adaga em punho. A luz das tochas tremia violentamente.

— Algo atravessou as defesas — ela disse, sem fôlego.

— Como?

— Não sei. Mas foi de dentro.

Essa frase fez os dois se entreolharem. E correrem.

Tahlia estava na sala do espelho, cercada por símbolos rompendo em faíscas. Ao seu redor, duas figuras de mantos escuros, olhos como brasa, empunhavam lâminas feitas de névoa solidificada. Servos do Vazio.

Rayn agiu sem pensar. A chama de sua mão brilhou, formando uma lâmina curva. Saltou entre as sombras e desferiu o golpe — mas uma das criaturas se desfez em fumaça antes de ser atingida.

— Eles não têm corpo! — gritou Liora, lançando um punhal que atravessou o segundo sem efeito.

Tahlia ergueu a mão e murmurou um encantamento. Um selo flamejante surgiu sob seus pés e explodiu em luz, dissipando ambos os invasores por um instante.

Mas o chão tremeu. Do teto, uma rachadura se formou. E então… ele apareceu.

Kael.

Não precisou dizer seu nome. A presença dele falava por si.

Trazia uma capa cinzenta, bordada com símbolos invertidos dos Guardiões. A máscara de metal cobria seu rosto, mas os olhos... ardiam como brasas molhadas de sangue.

— Então este é o novo escolhido? — a voz saiu abafada, mas firme. — Tão verde. Tão... perdido.

Rayn avançou por instinto. Mas antes que chegasse a Kael, foi lançado contra a parede por uma força invisível.

— Acalme-se, garoto. Ainda não é hora de você morrer.

Liora se posicionou ao lado de Rayn, em guarda. Kael caminhou pelo salão como se a torre fosse dele.

— Eu vim por Tahlia — disse, encarando a Guardiã mais velha. — Sua hora acabou. Sua fé já morreu. Só seu corpo é teimoso.

Tahlia não respondeu. Apenas lançou outro selo — mas Kael o absorveu com um gesto.

— Eu conheço seus truques, Tahlia. Fui treinado por você. Lembra?

Rayn arregalou os olhos.

— Você... era um Guardião?

Kael se virou lentamente.

— Não. Eu sou. Só mudei de lado. Porque entendi o que os outros se recusavam a ver.

Com um estalar de dedos, as paredes da torre se tingiram de sombra. O espelho se apagou. E Tahlia caiu de joelhos, sangue escorrendo do canto da boca.

Rayn gritou e correu até ela. A antiga Guardiã o olhou nos olhos uma última vez.

— Ele... quer abrir a Segunda Brecha. — Tossiu. — No Desfiladeiro... de Lurean...

Liora tentou impedir, mas o brilho da alma de Tahlia se apagou.

Kael recuou para a escuridão, como uma sombra se desfazendo no próprio vazio.

— A escolha será sua, Rayn Ardell. Fogo pode queimar… ou purificar. Decide logo.

E desapareceu.

A torre caiu no silêncio.

Rayn estava de joelhos, segurando a mão fria de Tahlia. A mulher que poderia ter guiado sua jornada… se fora. E ele não conseguira protegê-la.

Liora colocou a mão no ombro dele.

— Não foi culpa sua.

Ele não respondeu. Só fechou os olhos e deixou queimar.

Mas não era raiva. Era propósito.

Mais tarde, enterraram Tahlia no jardim suspenso da Torre. As flores azuis, sensíveis à magia, cresceram em volta da lápide como se reconhecessem a alma ali guardada.

Rayn permaneceu em silêncio.

— Ela era mais do que uma Guardiã — disse Liora. — Era uma chama velha… daquelas que acendem outras sem se apagar. Mesmo agora.

Ele assentiu. E então falou.

— Vamos até o Desfiladeiro de Lurean.

— Mesmo que Kael esteja esperando por nós?

Rayn apertou o punho. O anel brilhou, como se respondesse.

— Principalmente por isso.

More Chapters