Capítulo – Os Olhos do Véu
Nas criptas abaixo da Torre de Ébano, onde a luz não ousava descer, as tochas queimavam em azul — chamas vivas alimentadas por segredos e pactos. Ali, reuniam-se os Darxas, o clero sombrio que governava nos bastidores do poder. Seus mantos eram feitos de sombras costuradas com runas antigas. Suas vozes, quando falavam em uníssono, faziam as próprias pedras tremerem.
— Ela despertou — disse um deles, sem rosto sob o capuz.
— E escolheu mal — sibilou outro. — Um Bardaxa? Um bastardo de sombras e luz?
— Isso já estava previsto nas Linhas do Véu — entoou o mais velho, cujos olhos brilhavam em branco opaco. — Mas as escolhas dela aceleram os ciclos. O Fardo deve ser pesado com dor, ou o mundo se partirá.
Uma esfera de obsidiana flutuava ao centro da câmara. Dentro dela, a imagem de Kátyra e Tharion, ainda entrelaçados no alto da torre.
— Que os amantes sangrem — disse o mais jovem entre eles. — Que a herdeira aprenda que não há trégua para os que desafiam a Ordem.
O ancião ergueu a mão e a esfera escureceu como breu.
— Ainda não. O momento da ruptura se aproxima, mas não é agora. Deixem que o vínculo cresça. Que o coração da Filha pulse com o amor impossível. Assim, quando cortarmos... doerá mais.
Um silêncio gelado caiu sobre o círculo.
— E os Guardiões? — murmurou um Darxa do lado esquerdo. — O avô dela ainda detém o Cetro das Estações. Se ele suspeitar...
— Adam está velho. E o tempo dele passou — respondeu o ancião. — Os Ursos hibernam enquanto os Dragões se preparam. E nós, meus irmãos... nós moldamos o tempo com nossas mãos.
Lentamente, as sombras se dissolveram no ar.
Na superfície, Kátyra sentia um calafrio percorrer-lhe a espinha. Como se algo antigo tivesse despertado, sussurrando seu nome nas línguas esquecidas.
Ela não sabia ainda... mas estava sendo caçada.