Cherreads

Chapter 17 - Ecos na prisão

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Capítulo — Ecos da Prisão

Prisão de Espelhos – Noite

As paredes não tinham começo nem fim. Espelhos partidos flutuavam entre colunas de névoa, refletindo rostos que não eram de agora — memórias distorcidas, gritos engasgados em ecos. A umidade impregnava o ar como um veneno lento, e o tempo parecia dobrar-se, estilhaçado.

Kátyra acordou sobre um leito frio de pedra. As correntes em seus pulsos estavam soltas, mas ela não conseguia se levantar. Um vazio estranho a tomava por dentro. Como se tivesse sido roubada de si.

Ela tentou se lembrar da noite anterior… mas tudo vinha em flashes desconexos:

Um vulto de olhos dourados.

Chamas distantes.

A sensação de algo sendo arrancado.

O som da própria voz... implorando?

Seu corpo doía, e o braço onde as runas brilhavam antes agora estava apagado, como se a centelha tivesse se retraído.

Ela levou a mão ao ventre, instintivamente. Um calafrio a percorreu.

A porta de aço rangeu.

Um Darxa entrou, seguido por uma mulher com um véu negro. Esta carregava um frasco com líquido prateado — uma poção de memória.

— Sua mente resistiu mais do que o esperado — murmurou o Darxa. — Mas tudo tem um preço.

— O que… vocês fizeram comigo? — A voz de Kátyra era rouca, quase irreconhecível.

A mulher se aproximou. Tocou o rosto da princesa com um gesto quase materno.

— Não lute contra a névoa. Logo, esquecerá que houve um antes.

Mas o olhar de Kátyra, mesmo turvo, queimava.

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Castelo da Rocha de Marfim – Masmorras

Tharion estava pendurado por correntes negras, o corpo nu e coberto por cortes profundos, como mapas traçados a ferro quente. A água escorria pelas paredes, misturando-se ao sangue no chão. A cada gotejar, um feitiço o perfurava de novo, impedindo seus músculos de curar.

O inquisidor Darxa caminhava ao redor dele, lento, com uma tocha azul que queimava sem emitir calor.

— Já disseram que os Bardaxas resistem mais que os humanos — comentou, como se falasse do clima. — Mas você... é exceção até entre os mestiços.

Tharion mal conseguia manter os olhos abertos, mas ainda sorria com escárnio.

— Continue... falando... Talvez isso te convença de que é mais do que um cão obediente.

O Darxa afundou a tocha no ferimento do ombro esquerdo. A carne crepitou.

— Você pensa que está salvando ela? Você não é o herói da história, híbrido. Você é só o aviso. Um exemplo.

Tharion rangeu os dentes até a mandíbula quase quebrar.

— Quando ela... se erguer... vai queimar vocês todos.

O Darxa parou, pensativo. Depois, sorriu.

— Mas até lá... ela será a mãe do novo legado.

Ele se virou e saiu da cela, deixando a tocha azul flutuando sozinha, girando lentamente como um farol no escuro.

Tharion caiu em silêncio. Mas seus olhos, mesmo prestes a se fechar, ainda miravam a saída. Ele não chorou. Não gemeu. E não desistiu.

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Prisão de Espelhos — Amanhecer

Kátyra estava sentada, o rosto pálido voltado para o reflexo distorcido no espelho à frente. Ela não se reconhecia. Não ainda.

Mas as runas começaram a brilhar. Fracas, sim — mas vivas.

Ela sussurrou uma única palavra, antiga, da língua do Clã de Cristal. Uma palavra que sua avó lhe ensinara antes de morrer.

O véu tremeu levemente.

Ainda havia algo dentro dela.

Algo que Erizy não havia conseguido apagar.

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