Capítulo – O Eco da Esperança e a Sombra que Vem.
A noite após os festejos foi de um silêncio carregado de significado. O dia havia sido repleto de luz, cores e música, mas agora, enquanto o luar iluminava as torres do palácio, o verdadeiro descanso se revelava. Kátyra e Tharion, longe dos olhares curiosos, encontraram um momento de tranquilidade no coração da noite.
Eles estavam no jardim secreto, um lugar de paz, onde as flores noturnas exalavam um perfume suave. Kátyra, sem a armadura de princesa, parecia leve, mais do que nunca, e Tharion a olhava com um sorriso discreto, ainda sentindo os ecos do que havia acontecido entre eles.
Tharion: "Nunca pensei que a guerra nos daria um momento como este." Ele disse, a voz baixa, mas carregada de significado.
Kátyra olhou para ele, seus olhos brilhando na luz da lua.
Kátyra: "Às vezes, as batalhas mais difíceis são aquelas que travamos dentro de nós mesmos." Ela sorriu levemente. "Agora, é um alívio... Mas, no fundo, sei que a paz será breve."
Tharion: "Sim, a guerra está longe de terminar. Mas hoje, ao menos, temos este momento. E é o suficiente."
Ele se aproximou dela, pegando sua mão com delicadeza.
Tharion: "Você é a chama que sempre acende as sombras, Kátyra. Mesmo nos momentos mais sombrios, você brilha."
Kátyra, sem dizer mais nada, inclinou-se para ele e o beijou. Era um beijo suave, cheio de promessas e, ao mesmo tempo, da realidade de uma luta que não poderia ser evitada. A noite passou assim, com os dois em silêncio, apenas sentindo a presença um do outro.
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Enquanto isso, no salão dos banquetes, Orren estava de pé, frente a frente com Aelys. Seus olhos estavam fixos nela, mas, ao contrário da postura usual, havia uma suavidade em seu olhar, algo que ele raramente mostrava.
Orren: "Aelys, nossa jornada tem sido marcada por batalhas e perdas. Mas, se eu fosse pedir algo de você, seria que estivesse ao meu lado para o resto de nossa vida."
Aelys olhou para ele, surpresa, mas também tocada pela sinceridade em sua voz.
Aelys: "O que você está dizendo, Orren?"
Orren sorriu, um sorriso pequeno, mas genuíno.
Orren: "Você se casaria comigo, Aelys? Não porque a guerra tenha nos unido, mas porque, apesar de tudo, você me faz ver o que é viver."
Aelys ficou em silêncio por um momento, absorvendo as palavras. Então, com um sorriso tímido, ela respondeu:
Aelys: "Sim, Orren. Sim, eu aceito."
Orren deu um passo à frente, e os dois se abraçaram, sabendo que estavam prestes a iniciar um novo capítulo juntos.
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Na manhã seguinte, enquanto as ruas ainda ecoavam os sons das celebrações, Dimitry entrou nos aposentos de Kátyra. Seu rosto, normalmente severo, estava suavizado por um sorriso.
Dimitry: "Kátyra, há algo que eu preciso lhe contar."
Kátyra olhou para ele, preocupada com a seriedade de sua expressão.
Kátyra: "O que aconteceu, pai?"
Dimitry olhou para a esposa, que estava ao seu lado, com uma expressão suave.
Dimitry: "A rainha está grávida."
Kátyra congelou por um momento, surpresa, mas logo seu rosto se iluminou com um sorriso.
Kátyra: "Isso é... maravilhoso, pai."
Cora: "Sim, filha. Algo de bom nasceu neste caos. Uma nova vida, uma nova esperança." Ela sorriu para Kátyra, a felicidade transbordando em seu olhar.
Kátyra se aproximou da mãe e a abraçou com carinho.
Kátyra: "A vida sempre encontra uma maneira de seguir, mesmo nas horas mais sombrias."
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O aviso do Erudito
Após a noite de comemoração e a agitação dos festejos, os rostos dos habitantes do palácio ainda irradiavam alegria. Mas, no dia seguinte, uma nova reunião se fazia necessária. Kátyra, Tharion, Aelys, Lyzar e Orren foram convocados para a Biblioteca de Cristal — o famoso e labiríntico refúgio do Erudito, que tinha o poder de instigar confusão ou revelações.
Ao entrar, eles encontraram o Erudito em seu estado habitual: completamente desorganizado. Estava agachado no chão, com um monte de livros empilhados ao redor dele, que, por algum motivo, pareciam estar desmoronando constantemente. Ele estava falando consigo mesmo, rindo como um louco e gesticulando com uma colher de prata.
Erudito: "Ah, claro, claro, claro! O segredo estava na colher o tempo todo! Eu sabia, sabia que o feitiço tinha a ver com a prata!" Ele olhou para os outros, aparentemente percebendo pela primeira vez que não estava sozinho. "Ah! Olá! Olá! Venham, venham, venham! Precisamos conversar sobre a coisa mais importante: crianças, escuridão, véus! Lança-se um feitiço, mas será que o feitiço lança você? Hahahaha!"
Kátyra trocou um olhar com Tharion, que estava claramente tentando se conter para não rir da situação absurda.
Kátyra: "Erudito... calma. O que está acontecendo? O que você sabe sobre as crianças e a praga?"
O Erudito fez um grande gesto com os braços, como se estivesse anunciando algo grandioso, e os livros começaram a cair ainda mais.
Erudito: "Ah, ah, ah! Sabia que esse momento chegaria! Mas é um quebra-cabeças, um caos! O que é um véu, senão uma janela por onde você pode ver o que não deve ser visto? A praga! A praga, minha amada Kátyra, é... é... é um bilhete para uma festa que você não quer convidar ninguém! Você sabe o que acontece quando crianças se tornam... não crianças? Elas começam a gritar para o que vem! E o que vem! Ah, é um visitante! Um visitante que sempre esteve à espreita!"
Aelys se aproximou, tentando entender onde ele queria chegar.
Aelys: "Erudito, você está falando como se tudo fosse um grande jogo, mas isso está afetando vidas. As crianças estão desaparecendo!"
O Erudito, de repente, parou, olhou fixamente para Aelys e fez um gesto dramático com a colher, apontando para ela como se tivesse acabado de entender o segredo do universo.
Erudito: "Desaparecendo, você diz? Não, não! Elas estão indo para um lugar! Um lugar onde as sombras se alimentam das risadas e as pedras cantam... O que chamamos de 'desaparecer' é apenas uma viagem. Elas não se foram, minha cara Aelys, elas viajaram. Mas o bilhete de embarque, ah... esse é um problema!"
Lyzar, que estava impaciente e um tanto desconfiado, interrompeu, quase não acreditando no que estava ouvindo.
Lyzar: "Então, as crianças estão sendo usadas como... portais?"
Erudito: "Portais! Ah, é isso mesmo! Como uma chave que abre uma porta que jamais deveria ser aberta! Mas quem diz que devemos fechar a porta? Talvez a porta queira ser aberta, e quem somos nós para argumentar com a porta?" O Erudito começou a rir sozinho, a colher batendo contra a mesa em ritmo frenético. "Ah, mas claro, claro, claro! O segredo está no feitiço! Não, não no feitiço! Na colher!"
Kátyra, já cansada de tentar entender, deu um passo à frente.
Kátyra: "Erudito, por favor, você precisa ser claro. Qual é a solução? O que precisamos fazer para impedir que isso continue?"
O Erudito parou subitamente de rir, como se tivesse se lembrado de algo importante, e olhou para Kátyra com um olhar muito sério, sem aviso prévio. Ele ficou em silêncio por um longo momento, até que finalmente falou, com a voz calma e quase filosófica:
Erudito: "A solução? Ah... a solução está no lugar mais óbvio e mais distante, Kátyra. Mas a resposta, a resposta está em um olhar. O olhar de quem... quem vê a porta. E quem vê a porta... verá o segredo." Ele sorriu de forma enigmática, o brilho nos olhos perdendo-se novamente em um brilho confuso.
Tharion franziu a testa, mas agora, mais do que nunca, entendia que aquela conversa nunca faria sentido se ele procurasse lógica. O Erudito era como um quebra-cabeça que, se tentasse montar, só deixaria a mente ainda mais entalada.
Tharion: "Então, o que devemos fazer, além de esperar que a porta se abra sozinha?"
Erudito: "Ah, Tharion, não se trata de esperar. Trata-se de se preparar para o que entra. Porque quando a porta se abrir... bem... você vai querer estar de posse do feitiço certo. E eu tenho o feitiço certo!" Ele sorriu com um brilho louco nos olhos. "Mas eu não posso, não, não posso dar tudo de uma vez. A menos que..." Ele olhou para os outros, como se estivesse tomando uma decisão.
Kátyra: "A menos que o quê, Erudito?"
O Erudito, em um acesso de riso, pegou um livro, abriu de repente e apontou para uma página aleatória.
Erudito: "A menos que você possa dançar entre as palavras e cantar para as sombras. Mas, claro, o feitiço só funciona se você acreditar que está dançando com a verdade!" Ele riu, balançando a colher. "Ah, o segredo sempre está na dança, não na palavra!"
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