Cherreads

Chapter 25 - Sob o Peso da Herança.

---

Capítulo — "Sob o Peso da Herança"

Quatro anos haviam se passado desde o casamento. O Norte permanecia em paz aparente, mas por trás das muralhas geladas, as placas do mundo se moviam — lentamente, com precisão, como os primeiros estalos de uma avalanche.

No Trono de Ursa Maior, Adam ainda reinava. O velho monarca permanecia firme, mas não mais onipresente. Reunia-se menos com os conselheiros e evitava aparições públicas longas. Seus olhos, porém, seguiam atentos. Ele via tudo. E preparava-se para algo que nem mesmo os Deuses ousariam prever.

Dimitry, por sua vez, começava a assumir tarefas de Estado, tornando-se aos poucos a figura de comando mais visível nas terras do Norte. Diplomático, respeitado, mas marcado pela dor — seu casamento com Cora desfez-se em silêncio após o desaparecimento dela. Ele sabia, no fundo, que não fora um acidente.

E embora nunca falasse disso, também sabia que sua filha não havia se unido a Erizy por vontade. O olhar de Kátyra não enganava.

---

Nos corredores do palácio, falava-se em sussurros sobre o herdeiro real: a criança de cabelos prateados e olhos de âmbar, que raramente falava, mas observava tudo com um olhar velho demais para sua idade. Alguns diziam que era amaldiçoado. Outros, que possuía sangue de lenda. Mas entre os nobres, uma dúvida começava a crescer como erva daninha:

"E se o filho não for de Erizy?"

O Clã da Serpente fazia de tudo para manter a narrativa. Mas o menino não herdara os traços deles. Nem o olhar, nem a pele, nem o temperamento. E Adam, embora silencioso, nunca se referia ao neto como "filho de Erizy". Apenas como "filho da tempestade".

---

Naquele início de primavera, a Lua Nova caiu sobre o Norte. E com ela, um visitante cruzou as florestas geladas, vindo das profundezas das Terras Baixas: Tharion.

Ele não era mais o mesmo. A barba crescida escondia cicatrizes. Seus olhos, antes inquietos, agora eram firmes, mas carregados de sombra. Vinha sozinho, com o cavalo exausto e a espada embrulhada em couro escuro. Carregava consigo o silêncio dos que voltam por amor — e por guerra.

Foi recebido nos subterrâneos por uma das aliadas de Kátyra, a antiga aia de Cora, que mantinha viva a rede de resistência. Levado secretamente até a torre do luto, reencontrou Kátyra sob o véu da escuridão.

Não se tocaram.

— Você voltou. — disse ela, a voz embargada, mas firme.

— Não por você. Pelo que você se tornou. — ele respondeu. — E pelo que ainda podemos fazer.

Ela assentiu. Um gesto simples, mas cheio de significado.

— Ele acredita que me possui. Mas Erizy não vê a teia que cresci ao redor do trono.

— E o menino? — perguntou Tharion. — É meu?

Silêncio.

— Talvez. — ela respondeu, por fim. — Mas não é isso que importa agora. Ele é o símbolo. E vai herdar o que eu reconstruir. Não o que me foi imposto.

Tharion apertou os olhos.

— Eu não vim para proteger coroas. Vim para destruir tronos.

— Então vamos começar pelo primeiro.

---

Enquanto isso, na biblioteca subterrânea do Palácio dos Ursos, Adam lia um tomo antigo com páginas seladas em sangue. À sua frente, uma pequena caixa negra repousava sobre a mesa. Dentro dela, havia uma coroa antiga — a Coroa dos Precursores, feita de ossos de dragão e prata viva, esquecida desde os tempos do primeiro pacto entre os Guardiões e os Jeangles.

Ele murmurou algo em uma língua morta, e os olhos arderam brevemente com um brilho dourado.

— Está na hora. — sussurrou o velho rei. — De lembrar ao mundo por que os Ursos governam.

---

More Chapters