A pressão no ar parecia aumentar, enquanto Ryouma mantinha os olhos fixos no horizonte, os braços cruzados sobre o peito. Ele não se importava com as palavras de seus amigos e professores. O Julgamento estava mais forte do que nunca, e com ele, uma força que pulsava dentro dele, imensa, incontrolável, como um mar revolto pronto para engolir tudo em seu caminho.
O silêncio no pátio da Academia Shrek era quase palpável, quebrado apenas pelos sons distantes de alunos treinando. Flender, Tang San, Xiao Wu e o Mestre estavam ali, observando-o com crescente preocupação. Eles sabiam que o momento da verdade estava se aproximando.
O Juízo não era mais algo que ele controlava. Era algo que o controlava. Ryouma não sabia até onde poderia ir sem perder a própria humanidade. E, por mais que tentasse afastar esses pensamentos, a verdade era que ele estava ciente de que sua jornada havia tomado um rumo irreversível.
— Ryouma... — a voz de Tang San cortou o silêncio, seu tom grave e cheio de preocupação. — Você sabe o que está em jogo aqui, não sabe?
Ryouma virou levemente a cabeça, encarando Tang San com seus olhos penetrantes. A luz que emanava de seus olhos parecia mais forte a cada dia, como se um fogo interno o consumisse. Ele sabia que algo dentro dele estava sendo corrompido, mas ainda assim, havia uma parte dele que se recusava a voltar atrás.
— Sei muito bem o que está em jogo, Tang San. O que você não entende é que essa escolha já foi feita. Não é mais uma questão de certo ou errado. Eu... — ele hesitou por um momento, mas logo continuou, sua voz firme — eu não posso mais voltar. O Julgamento me escolheu, e não posso fugir disso.
Flender, que até então observava com olhos penetrantes, deu um passo à frente, sua voz áspera. — Você ainda tem a chance de mudar. Não é tarde para voltar atrás, Ryouma. O caminho que você está tomando não é o único.
Ryouma fechou os olhos por um momento, sentindo a pressão dentro de si aumentar. Era como se as palavras de Flender fossem apenas ecos distantes de algo que ele já havia superado. Ele sabia que havia chegado a um ponto sem retorno. O poder do Juízo agora fazia parte dele, e não importava o que os outros pensassem, ele não poderia mais abrir mão disso.
— Eu sei que não é tarde. Mas também sei que o destino que estou seguindo é meu para tomar. E não importa o que vocês digam, não vou desistir disso.
Xiao Wu olhou para ele com uma expressão triste. Ela sentia uma dor silenciosa ao ver a determinação nos olhos de Ryouma. Ela sabia que ele estava perdendo algo muito importante, algo que talvez nem ele soubesse o que fosse. Mas, ao mesmo tempo, ela sentia que ele estava sendo atraído por algo além do que todos eles podiam compreender.
— Você está indo para um caminho solitário, Ryouma — ela disse suavemente, sua voz cheia de empatia. — Mas, se você continuar por esse caminho, perderá mais do que sua humanidade. Você perderá a todos nós.
Ryouma não respondeu imediatamente. Ele apenas olhou para ela, seus olhos frios, mas ao mesmo tempo, havia uma tristeza profunda neles. Ele sabia o que estava acontecendo, sabia que estava se afastando de todos. Mas o poder do Juízo, a energia que ele sentia dentro de si, era algo que o dominava. Ele estava sendo consumido por uma necessidade crescente de mais poder, mais controle.
O Mestre, que até então permanecia em silêncio, olhou profundamente para Ryouma e suspirou. — O Julgamento não é algo que você pode controlar, Ryouma. Ele vai consumir você se você não tomar cuidado.
Ryouma virou-se para o Mestre, a expressão séria. — Eu sei o que estou fazendo, Mestre. Mas há algo que você não entende. O Juízo não está me consumindo, ele está me moldando. Eu não sou mais um simples humano. Eu sou algo maior, algo mais.
O Mestre deu um passo à frente, colocando uma mão no ombro de Ryouma. — Você ainda é humano, Ryouma. E você pode se tornar algo além, mas isso não significa que você deve perder tudo que fez de você quem você é. A força não é tudo. A escolha ainda é sua, mas ela precisa ser feita com consciência.
Ryouma sentiu a mão do Mestre em seu ombro, mas o peso das palavras não teve o efeito esperado. Algo dentro dele, algo que havia mudado em sua essência, não permitia mais que ele voltasse atrás. Ele se afastou lentamente, empurrando a mão do Mestre para o lado.
— Eu não preciso mais de conselhos. O caminho que escolhi é o único que me interessa.
E com isso, ele virou as costas, caminhando para o centro da praça. Ele podia sentir o Juízo se aproximando, sua energia crescendo a cada passo que dava. Seus amigos e mestres ficaram para trás, sem poder fazer nada. Eles sabiam que a última chance de salvar Ryouma havia passado, e agora, tudo o que restava era esperar para ver até onde o poder do Juízo poderia levá-lo.
Horas se passaram enquanto Ryouma permanecia ali, no centro da praça, os olhos fechados, a energia dentro de seu corpo se intensificando. Ele estava absorvendo tudo ao seu redor, os poderes da natureza, a essência da terra, o ar, até mesmo o próprio tempo. Ele se sentia como uma tempestade prestes a se soltar, uma força primordial prestes a explodir.
Mas, no fundo, uma dúvida começou a se formar em sua mente. Será que ele estava certo? Será que havia feito a escolha certa ao se entregar completamente ao Juízo?
A dúvida o consumia por um momento, mas logo foi substituída por uma decisão ainda mais firme. Ele havia escolhido este caminho. Não importava o que acontecesse a partir de agora. Ele não voltaria atrás.
Mas então, uma voz surgiu, quebrando o silêncio em sua mente.
— Ryouma...
Era uma voz familiar, suave, mas cheia de poder. Ryouma abriu os olhos de imediato, olhando para o céu. Lá, no alto, uma figura começou a descer, flutuando suavemente para a frente dele. Era Daelus.
O Juízo. A presença que ele havia sentido durante tanto tempo agora estava diante dele, em forma física, uma figura imponente de luz e sombras.
— Você tem sido um bom recipiente até agora, Ryouma. Mas sua jornada está longe de terminar. O Juízo é uma prova, e você ainda não passou por ela.
Ryouma sentiu uma onda de energia percorrer seu corpo, mas não recuou. Ele encarou Daelus com olhos desafiadores. — Estou pronto. Pode vir o que vier.
Daelus sorriu, a luz em seu corpo se intensificando. — Então, prepare-se, Ryouma. O verdadeiro Julgamento começa agora.
E com essas palavras, o céu se iluminou com uma força indescritível. O futuro de Ryouma, o destino que ele havia escolhido, estava prestes a ser decidido.