O sol mal havia tocado o horizonte, e a Academia Shrek ainda estava envolta no silêncio pesado de uma manhã sem respostas. No pátio, o vento soprava levemente, agitando as folhas secas que cobriam o chão, enquanto o som da madeira rangendo ao longe se misturava com o murmúrio dos alunos, que já estavam acordando, mas sem saber o que havia acontecido.
Ryouma estava ali, em pé, sem se mover, seus olhos fixos no vazio. Seu corpo estava repleto de marcas douradas, linhas de energia que pareciam pulsar com uma vida própria. Ele sentia a presença do Julgamento dentro de si, e uma parte dele estava aterrorizada com o que poderia vir a seguir. Mas ele não hesitaria.
Nada mais poderia detê-lo.
A energia que ele havia absorvido da entidade Daelus ainda reverberava em sua essência. Era um poder antigo, e suas consequências eram impossíveis de prever. Mas Ryouma não se importava com as consequências. Ele estava além disso agora. Os ecos do passado o chamavam. Os caminhos do futuro, tortuosos e incertos, eram sua única realidade.
Ele havia tocado algo que não devia ser tocado.
A aura do Juiz Perdido ainda estava nele, em cada movimento, em cada respiração. Não havia volta agora.
As portas da Academia Shrek se abriram com um estrondo. Flender e o Mestre caminharam para fora, seguidos por Tang San e Xiao Wu. Todos eles tinham o olhar fixo em Ryouma, como se tentassem compreender o que havia acontecido, mas também com um certo receio, como se o próprio ambiente tivesse se alterado devido à presença do garoto.
Flender foi o primeiro a falar.
— Eu não sei o que você fez, Ryouma, mas pode apostar que isso vai ter um preço. Você mexeu com algo que nem os mestres dessa Academia são capazes de entender. A energia que irradia de você... não é humana. Não é espiritual.
Ryouma não respondeu de imediato. Ele estava vendo o mundo através de uma nova perspectiva, como se a cortina que o separava de tudo o que havia além de sua percepção tivesse sido levantada. Ele sabia que havia algo mais no futuro. Algo que estava aguardando por ele. A presença das estrelas no céu parecia mais próxima, como se ele pudesse tocá-las.
Tang San, com a voz grave, continuou:
— O que você absorveu não é algo que pode ser controlado facilmente. Se você não tomar cuidado, vai perder tudo. E nós... vamos ter que detê-lo, por mais que isso nos magoe.
Ryouma olhou para Tang San. Seus olhos estavam frios e distantes.
— Se você não me impedir agora, Tang San, não haverá mais volta para você também. Não há mais caminho seguro. O Juízo não permite fraqueza. Ele destrói tudo e todos que não estão preparados.
Xiao Wu olhou para Ryouma com preocupação, mas também com um toque de compaixão. Ela sabia que, de certa forma, ele não estava mentindo. Havia algo em sua aura que dizia que ele estava além de qualquer pessoa que já haviam conhecido. Algo... perigoso.
Flender encarou Ryouma por mais alguns segundos e, então, balançou a cabeça, como se estivesse tentando entender o que realmente havia acontecido.
— Não sabemos até onde isso vai nos levar. Mas eu não posso permitir que você continue desse jeito, Ryouma. Se você não puder controlar isso, teremos que parar você, independentemente das suas intenções.
Ryouma deu um passo à frente. Sua expressão era calma, mas seus olhos estavam iluminados por algo profundo.
— Não importa o que aconteça, Flender. Não vou me arrepender. Esse poder é meu agora, e eu farei o que for necessário para impedir que o destino de todos seja escrito sem consideração.
A tensão no ar era palpável. O Mestre observava a cena com uma expressão grave, mas parecia estar ponderando algo em sua mente. Ele não sabia o que aconteceria a seguir. Sabia apenas que Ryouma havia tocado algo que não deveria, e agora os resultados disso estavam começando a se manifestar.
— Ryouma — disse o Mestre finalmente, sua voz grave. — Você está prestes a abrir uma porta que não pode ser fechada. Eu não sei o que você pensa estar fazendo, mas entenda isso: se você se perder nesse caminho, será mais do que você pode controlar. E, se precisar de nossa ajuda, não espere que possamos ajudá-lo quando for tarde demais.
Ryouma olhou para ele, sem medo, mas com uma leve tristeza nos olhos.
— Eu não estou sozinho, Mestre. E não estou perdido. O futuro está diante de mim, e não vou deixar ninguém mais decidir o que posso ou não fazer. O Juízo me escolheu.
Xiao Wu deu um passo à frente, colocando a mão no braço de Ryouma.
— Não estamos dizendo que você não tem o direito de escolher. Estamos apenas tentando te proteger. A energia que você absorveu é mais forte do que qualquer coisa que você já tenha experimentado. Não sabemos as consequências disso, mas não queremos te ver se perder no meio disso.
Ryouma olhou para ela. O olhar dele era difícil de decifrar.
— Eu não estou me perdendo, Xiao Wu. Eu estou me encontrando.
O ambiente ao redor deles parecia se comprimir com as palavras de Ryouma. O que ele dizia não era algo simples, mas uma verdade que ainda estava sendo forjada nas chamas do seu destino.
O Mestre fez um gesto para os outros se afastarem.
— Deixe-o. Se ele quiser seguir esse caminho, ele terá que arcar com as consequências. Mas a partir de agora, ele é responsável pelas escolhas que fizer. Nós não podemos interferir mais.
Ryouma assentiu com um olhar vazio, absorvendo as palavras do Mestre e, ao mesmo tempo, se distanciando de tudo o que estava acontecendo ao seu redor. Ele estava mudando, e, mais cedo ou mais tarde, todos ao seu redor precisariam escolher como reagir a essa mudança.
Naquele momento, um novo som ecoou pela floresta ao longe, um som profundo e rítmico, como se a própria terra estivesse pulsando. O sistema de Ryouma detectou algo.
[Nova alteração detectada: 12º Julgamento iniciado – Contagem regressiva: 7 dias][Alvo detectado: Antigo Deus do Juízo][Imunidade gerada: 50%]
Ryouma sorriu internamente. As peças estavam se movendo. O relógio estava correndo.
O Julgamento havia começado.
Nos dias seguintes, Ryouma se isolou. Ele não falava com ninguém. Não precisava. Ele sentia que a resposta para o que aconteceria não viria dos outros. A resposta estava em si mesmo, e no que ele havia se tornado.
Tang San, Xiao Wu, Flender, e até o Mestre observavam à distância, sem saber o que fazer. Eles estavam começando a perceber que Ryouma não era mais aquele jovem simples que havia chegado à Academia. Ele era agora algo mais.
E esse "algo mais" poderia ser a chave para a destruição de tudo o que eles conheciam.
A cada momento que passava, mais as correntes do Juízo se apertavam ao redor deles.
E o futuro parecia cada vez mais incerto.