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chama de decite

EVANDEILSON
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Chapter 1 - capitulo 1

As muralhas de Decite erguiam-se como braços antigos protegendo a cidade sagrada. Dentro delas, sinos ecoavam pelas ruas de pedra, chamando o povo para a oração. No coração da cidade, a Torre da Luz permanecia acesa dia e noite, alimentada pela chama celestial entregue mil anos atrás pelo anjo Elhariel.

Alith caminhava entre a multidão com passos decididos. Seus olhos dourados brilhavam sob o sol poente, e um colar de âmbar repousava sobre seu peito. Sempre que se aproximava da torre, o colar aquecia e pulsava com uma luz suave. Filha de um sacerdote e marcada por uma antiga profecia, Alith sabia que sua vida não seria como a das outras moças da cidade.

A basílica estava silenciosa. Ao entrar, ela se ajoelhou diante do altar, fechando os olhos. No silêncio, uma voz ecoou em sua mente.

— O tempo chegou.

Assustada, abriu os olhos e viu um símbolo dourado arder na pedra diante dela. Era o mesmo que via em seus sonhos desde a infância. Um símbolo com três círculos entrelaçados e uma chama no centro. Ao se levantar, ouviu passos. Um homem encapuzado observava da porta.

— Alith — disse ele com voz firme —, o Portão de Mirath foi aberto. O selo se quebrou. O exército das trevas marcha. O Rei deseja falar contigo.

Ela o seguiu sem hesitar. Cruzaram becos estreitos e ruas escuras, passando por guardas que os saudavam com respeito. O homem encapuzado era um mensageiro real, e sua presença bastava para abrir qualquer porta.

No Salão de Cristal, o Rei de Decite os aguardava. Sua armadura dourada refletia a luz das tochas. Ele tinha olhos antigos, cheios de sabedoria e dor. Levantou-se ao vê-la.

— Você foi escolhida — disse ele. — A chama de Elhariel arde em você. Só com ela poderemos selar o portão novamente.

Alith ajoelhou-se.

— O que devo fazer, Majestade?

O Rei caminhou até um pedestal coberto por um pano branco. Retirando-o, revelou uma espada envolta em linho. Quando Alith tocou o cabo, a lâmina brilhou com uma luz dourada.

— Essa é a Espada de Oreb — disse ele. — Forjada na luz. Ela responde apenas à fé verdadeira.

O colar de Alith brilhou intensamente. A espada reconhecia seu portador. Ela se levantou, segurando-a com firmeza.

— Você deve partir para o Vale de Nargath. Lá está o Templo da Separação. Somente lá o selo pode ser restaurado.

O encapuzado apareceu novamente.

— Partimos ao amanhecer — disse ele.

Alith saiu do castelo sem olhar para trás. Seu coração estava inquieto, mas sua fé era inabalável. Naquela noite, diante da chama da torre, ela fez uma oração silenciosa. Sabia que sua jornada seria difícil, que enfrentaria trevas e dor, mas também sabia que a luz jamais seria vencida pelas sombras.

O céu trovejou ao longe. Algo despertava no abismo.

Enquanto os primeiros relâmpagos riscavam o céu, uma tempestade se aproximava. No subsolo do mundo, no esquecido Reino de Karzath, olhos vermelhos se abriam após séculos de silêncio. Os lacres sagrados tremiam, enfraquecidos pela corrupção e pelo tempo.

Em uma câmara escura, vozes sussurravam orações profanas. Um homem de túnica negra, com uma coroa feita de ossos, ergueu as mãos ao céu.

— Ela despertou — disse ele. — A portadora da luz caminha entre nós.

Seus seguidores, com rostos cobertos por máscaras de ferro, curvaram-se diante dele.

— Tragam o arauto. Preparem o exército. A chama precisa ser apagada.

Na manhã seguinte, Alith montava um cavalo branco, com o encapuzado ao seu lado. Enquanto saíam pelos portões de Decite, o povo se reunia para vê-los partir. Muitos abaixavam a cabeça em reverência. Outros choravam. Todos sabiam: uma guerra antiga estava prestes a recomeçar.

O caminho para Nargath seria longo. Alith sabia que precisaria de mais do que fé. Precisaria de coragem, sabedoria e da verdade oculta por trás das lendas. Pois em algum lugar além das montanhas, entre as ruínas e o deserto, algo a esperava. Algo que conhecia seu nome antes mesmo que ela nascesse.

E assim, sob o céu cinzento da profecia, começou a missão da Guardiã da Chama.