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Chapter 12 - Chamas sob o véu .

Capítulo – Chamas Sob o Véu

O Confronto com o Conselho dos Guardiões

O salão do Conselho era vasto e frio, feito de pedra branca e vidro encantado. Cada Guardião ocupava um trono elevado com o emblema da sua Casa às costas: Leão, Grifo, Urso e Falcão. No centro, o trono vazio do Rei Adam parecia pesar mais do que os que estavam ocupados.

Kátyra adentrou com os olhos como aço polido. Suas vestes carregavam o brasão da Casa dos Dragões, e seus passos firmes faziam eco como trovões contidos.

— O sangue de Moira clama por justiça — disse, interrompendo o ritual de abertura.

Um murmúrio correu entre os anciãos. O mais velho deles, Guardião Elion, ergueu a mão.

— Suas palavras são perigosas, menina. Acusar sem provas é cuspir nas cinzas do reino.

Ela lançou sobre a mesa o anel de Lysiara e o selo Darxa, tirado da cela.

— As cinzas do reino já estão espalhadas ao vento. Os Darxas estão infiltrados. Minha avó foi assassinada por eles. E vocês, sentados nesses tronos, permitiram isso.

O choque caiu como um feitiço sobre os presentes. Mas nenhum deles se levantou.

— Não é tão simples, Kátyra — disse uma Guardiã da Casa do Leão. — Há pactos mais antigos que o seu sangue. E segredos que nem mesmo Moira ousou revelar.

— Então eu os quebrarei — ela respondeu. — Um por um. Com ou sem o Conselho.

E saiu sem se curvar, como uma tempestade que recusa aprisionamento.

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O Reencontro com Erizy

Mais tarde, no jardim de cristais onde as flores flutuavam sobre a água encantada, Kátyra encontrou Erizy, filha do Clã da Luz, outrora uma amiga de infância... e talvez algo mais.

— Você brilha mais do que nunca — disse Erizy, surgindo entre as flores como um sussurro de aurora.

Kátyra sorriu, mas havia sombras no gesto.

— E você ainda aparece quando não espero. Nem sei se isso me acalma ou me aflige.

Erizy se aproximou. Seus dedos tocaram levemente os de Kátyra. Olhares se encontraram, e por um instante o tempo parou.

— Ouvi que enfrentou o Conselho. — A voz dela era doce, mas carregava preocupação. — Ainda é você... ou virou apenas o que esperam que seja?

— Nem eu sei — Kátyra confessou. — Mas quando estou perto de você, lembro do que ainda resta em mim.

Erizy se inclinou, e seus lábios quase tocaram os de Kátyra... até o som de passos duros sobre o cristal ecoar entre as árvores.

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A Fúria de Tharion

Tharion estava ali, parado, com o rosto tenso e o olhar ferido como lâmina recém-forjada.

— Interrompi alguma coisa? — perguntou com voz cortante.

Kátyra afastou-se sutilmente de Erizy, mas não disse nada.

— O que está fazendo aqui? — ela perguntou.

Tharion não respondeu de imediato. Sua mandíbula estava rígida. Os olhos, traídos por algo que nem ele conseguia esconder.

— Procurando você. Mas parece que está... ocupada demais.

Erizy sorriu com provocação. Tharion não suportou.

— Você acha que entende os jogos dos clãs, Kátyra? Você não faz ideia. Acha que o Conselho é corrupto? Que os Darxas são o inimigo? Você não sabe nem quem está ao seu lado.

— Tharion... — ela começou, mas ele avançou um passo.

— Você não sabe quem eu sou. Eu vi os decretos. Eu me infiltrei entre os Bardaxas por você. Carreguei o nome de bastardo, de traidor, e ainda assim... fico à sombra de uma filha da Luz?

Silêncio.

Erizy o encarava com olhos impassíveis. Kátyra, surpresa, tentou conter o que se formava dentro dela: dor, raiva... e algo mais fundo.

— Então diga o que quer dizer, Tharion — ela desafiou.

Ele apertou os punhos.

— Eu te amo, Kátyra. E odeio isso mais do que qualquer feitiço lançado sobre mim.

E então, sem esperar resposta, ele partiu.

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Tharion caminhava pelas vielas internas do castelo, a fúria queimando em silêncio por trás de cada passo firme. A ordem da princesa havia sido clara, mas a humilhação de ser dispensado na frente de Erizy ainda latejava como uma ferida aberta.

Então, o som. Um leve estalo atrás dele. Nem tempo de se virar — um pano embebido em éter prensou-se contra sua face. Os músculos resistiram, mas cederam. O mundo se apagou.

Quando acordou, estava num salão velado pela penumbra, iluminado apenas por archotes que crepitavam nas paredes de pedra. Seu corpo ainda ardia de raiva, mas a adrenalina reacendeu os sentidos — e ali, de pé diante dele, envolta num manto carmesim que contrastava com seus cabelos de prata, estava ela.

Kátyra.

— Você me emboscou — ele cuspiu, a voz rouca. — Me tratou como um inimigo. Isso é o que sou agora?

Kátyra avançou um passo, o olhar firme, mas os olhos vacilando num mar de emoções.

— Fiz o que era necessário para que você me ouvisse sem a armadura da sua mágoa.

— Minha mágoa? — Tharion riu, amargo. — Você está prestes a se casar com aquele verme da Serpente e quer que eu fique calado, de pé atrás do seu trono?

— Não é isso! — ela rompeu a distância, a voz falhando por um instante. — Eu… eu não te quero longe. Mas não posso escolher livremente. Você sabe disso.

— Então por que me chama? Por que me prende? — ele se aproximou dela, olhos em brasa. — Pra me torturar com sua ausência, mesmo quando está diante de mim?

— Porque quando você está longe, falta ar. Porque cada vez que Erizy toca minha mão, eu imagino a sua. Porque só com você eu deixo de ser uma peça no tabuleiro.

Havia lágrimas nos olhos dela agora, mas a voz tremia de força, não de fraqueza.

Tharion respirou fundo,

Tharion fitava Kátyra com os olhos incendiados. O silêncio entre eles era denso, como o ar antes da tempestade. E então ela deu um passo à frente. Depois outro. Parou tão próxima que ele podia sentir o calor do corpo dela atravessar o véu de distância que ainda insistia em existir.

— Eu luto por você todos os dias, mesmo que ninguém veja. Mesmo que isso me consuma por dentro — disse ela, a voz baixa, trêmula, como um feitiço prestes a se quebrar.

Tharion arquejou, a mandíbula tensa, os olhos oscilando entre raiva e desejo.

— Então me prova — ele sussurrou. — Me mostra que ainda sou seu.

Ela não respondeu com palavras. Suas mãos encontraram o rosto dele com a força contida de quem esperou tempo demais. E então, o beijo.

Foi como fogo invadindo um campo seco. Um choque quente, descontrolado, feito de saudade, revolta e entrega. Tharion a segurou pela cintura e a puxou com uma intensidade que fez Kátyra soltar um suspiro entre os lábios dele. Seus corpos se encaixaram como duas peças de um segredo antigo, proibido.

Ela mordeu o lábio inferior dele com delicadeza feroz. Ele gemeu baixo, os dedos enroscando-se nos cabelos prateados dela, como se quisesse aprisionar o momento no tempo.

— Você é minha ruína — ele murmurou entre beijos, a respiração falhando contra a dela.

— E você, meu abismo — sussurrou Kátyra, sem hesitar.

Quando os lábios se separaram, havia nos olhos dos dois uma mistura de vertigem e clareza. Algo havia mudado — não podiam mais fingir. Não depois daquele beijo. os dedos se fechando em punhos, lutando contra o impulso de tomá-la nos braços e contra o orgulho ferido.

— Então lute por mim, Kátyra. Ou me solte de vez. Porque eu não suporto ser seu segredo, sua sombra. Eu quero ser o fogo ao seu lado — ou nada.

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