Raphael segurou a carta nas mãos, admirando o selo de cera vermelha com o brasão de Hogwarts impresso. Ele sonhava com aquele momento havia anos – o início oficial de sua jornada no mundo mágico. Cuidadosamente, rompeu o selo e removeu o pergaminho de dentro do envelope.
ESCOLA DE MAGOSTA E BRUXARIA DE HOGWARTS
Diretor: Armando Dippet (Ordem de Merlin - Segunda Classe, Membro Honorário da Confederação Internacional de Bruxos)
Prezado Sr. Elliott, Temos o prazer de informar que o senhor foi aceito na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Segue em anexo uma lista de todos os livros e equipamentos necessários.
O semestre letivo começa em 1º de setembro. Aguardamos sua coruja até 31 de julho, no máximo.
Atenciosamente, Alvo Dumbledore, Vice-Diretor.
Raphael leu o nome de Dumbledore duas vezes. Em suas memórias nebulosas, esse nome era associado ao Diretor de Hogwarts, não ao Vice-Diretor. Mais uma confirmação de que ele estava em um período muito anterior aos eventos dos quais vagamente se lembrava.
Anexada à carta principal havia uma segunda folha:
OS ALUNOS DO PRIMEIRO ANO PRECISARÃO DE:
UNIFORME
- Três conjuntos de vestes pretas simples (para uso diário)
- Um chapéu preto pontudo simples (para ocasiões formais)
- Um par de luvas de proteção (de pele de dragão ou similar)
- Uma capa preta de inverno com fechos prateados
LIVROS
- "Teoria Mágica Básica" de Adalbert Waffling
- "Uma História da Magia" de Bathilda Bagshot
- "Um Guia para Transfiguração para Iniciantes" de Emeric Switch
- "Mil Ervas e Fungos Mágicos" de Phyllida Spore
- "Poções e Elixires Essenciais" de Arsenius Jigger
- "Animais Fantásticos e Onde Habitam" de Newt Scamander
- "As Artes das Trevas: Um Guia para Proteção" de Galatea Merrythought
- "Introdução aos Feitiços" de Miranda Goshawk
OUTROS EQUIPAMENTOS
- 1 varinha
- 1 caldeirão (estanho, tamanho padrão 2)
- 1 conjunto de vidro ou cristal frascos
- 1 telescópio
- 1 conjunto de balanças de latão.
Os alunos também podem trazer uma coruja, um gato ou um sapo.
LEMBRAMOS AOS PAIS QUE OS ALUNOS DO PRIMEIRO ANO NÃO PODEM USAR SUAS PRÓPRIAS VASSOURAS.
"Você já decidiu em qual casa quer ficar, Rapha?", perguntou Edward durante o café da manhã de aniversário.
Raphael mastigou seu pedaço de bolo lentamente antes de responder. Esta era uma pergunta que ele havia considerado cuidadosamente.
"Ainda não decidi", respondeu ele finalmente. "Preciso aprender mais sobre cada um deles quando chegar à escola."
Edward assentiu, satisfeito com a resposta atenciosa.
"Uma abordagem sensata", comentou Eleanor. "Você terá tempo para encontrar seu lugar."
Na semana seguinte, a família Elliott se preparou para a viagem ao Beco Diagonal. Edward tirou uma folga do Ministério e, em uma manhã ensolarada de sexta-feira, partiram para Londres usando a rede de Flu.
Ao sair da lareira do Caldeirão Furado, Raphael sentiu uma descarga de adrenalina. O bar estava mais limpo e iluminado do que suas memórias fragmentadas sugeriam, mas ainda mantinha aquela atmosfera aconchegante de um estabelecimento com séculos de história.
"Ora, se não são os Elliott!" exclamou o barman, um homem jovial de barba bem aparada. "E este deve ser o jovem Raphael, finalmente indo para Hogwarts?"
"Bom dia, Tom", respondeu Edward. "Sim, viemos comprar os suprimentos dele."
Raphael olhou para o barman com interesse. Tom ... Em suas memórias fragmentadas, havia um Tom cuidando do Caldeirão Furado, mas muito mais velho. Seria o mesmo homem, décadas mais jovem?
Eles atravessaram o bar até o pátio dos fundos, onde Edward bateu nos tijolos da parede com sua varinha. O portão para o Beco Diagonal se abriu, e Raphael não conseguiu conter um suspiro de admiração.
O Beco Diagonal de 1931 era ligeiramente diferente do que suas memórias nebulosas sugeriam. As lojas pareciam mais antigas e tradicionais, mas ao mesmo tempo mais vibrantes. Não havia sinais da tensão ou do medo que ele vagamente associava ao lugar em suas lembranças de "antes".
"Primeiro, vamos a Gringotes", disse Eleanor. "Precisamos sacar dinheiro do cofre para as compras."
Rafael observava, maravilhado, os goblins trabalhando no banco bruxo. Altos balcões de mármore, criaturas com rostos severos e inteligentes contando moedas de ouro e pedras preciosas. O lugar emanava poder e riqueza ancestrais.
Depois de visitar o banco, com uma sacola cheia de moedas de ouro, prata e bronze, eles começaram as compras.
Na Flourish and Blotts, Raphael se perdeu entre as prateleiras. Além dos livros obrigatórios, pediu permissão para comprar alguns extras:
"Mãe, eu também posso fazer 'Teorias Avançadas de Magia Essencial'?" seus olhos brilharam de expectativa.
Eleanor examinou o volume. "Este é um material de nível NIEM, Rapha. Bastante avançado para um calouro."
"Só para leitura complementar", argumentou ele, usando sua expressão mais inocente.
"Tudo bem", ela admitiu, reconhecendo o brilho determinado nos olhos do filho. "Mas primeiro concentre-se no currículo básico."
Nas horas seguintes, eles adquiriram o caldeirão de estanho, a balança de latão, o telescópio e os frascos de cristal. Na loja de animais mágica, Raphael ficou fascinado por uma coruja-das-torres com penas especialmente brancas.
"Ela é perfeita", disse ele, enquanto o pássaro inteligentemente inclinava a cabeça em sua direção. "Vou chamá-la de Atena."
Na loja Madame Malkin - Roupas para Todas as Ocasiões, Raphael estava experimentando suas vestes quando outro rapaz entrou na loja. Era um rapaz de feições aristocráticas, cabelos negros perfeitamente penteados e postura altiva.
"Vai para Hogwarts também?" perguntou o garoto enquanto Madame Malkin começava a tirar suas medidas.
"Sim, primeiro ano", respondeu Raphael, estudando o garoto com interesse.
"Eu também. Orion Black", o garoto se apresentou sem estender a mão. "Sua família é...?"
A hesitação era óbvia. Raphael sabia o que estava sendo perguntado: ele era puro-sangue?
"Elliott. Raphael Elliott", ele respondeu simplesmente.
O menino franziu a testa ligeiramente. "Eu não conheço essa família."
"Somos relativamente novos no mundo mágico", Raphael manteve um tom educado, mas firme. "Meus pais estudaram em Hogwarts, ambos da Corvinal."
"Ah", foi a única resposta, carregada de significados implícitos. Órion não disse mais nada, mas seu leve distanciamento físico dizia tudo.
Quando Rafael saiu da loja com suas novas vestes, ele contou aos pais sobre o encontro.
"Os Black são uma das famílias bruxas mais antigas e... tradicionalistas", explicou Edward cuidadosamente. "Eles dão grande valor à pureza do sangue."
"Não se incomode com isso", acrescentou Eleanor, ajeitando a gola da camisa do filho. "Hogwarts é cheia de gente de todo tipo. Você encontrará amigos de verdade lá."
Finalmente, eles chegaram à última e mais esperada parada: Olivaras - Fabricantes de Varinhas Finas desde 382 a.C.
A loja era exatamente como Raphael imaginara – estreita, empoeirada e com uma atmosfera carregada de magia ancestral. As paredes estavam forradas com milhares de caixas finas empilhadas até o teto. Ao entrarem, um sino tilintou suavemente.
Do fundo da loja emergiram não um, mas dois homens. O mais velho tinha cabelos grisalhos desgrenhados e olhos prateados que pareciam brilhar na escuridão da loja. O mais novo, aparentando ter a mesma idade de Raphael, era praticamente uma versão em miniatura do mais velho, incluindo os olhos curiosos.
"Ah, os Elliotts", disse o homem mais velho com um leve aceno de cabeça. "Eu esperava vê-los este ano."
"Bom dia, Sr. Olivaras", cumprimentou Edward. "Este é o nosso filho, Raphael. E vejo que o seu filho também está aqui."
"Sim, Geraint, venha conhecer o jovem Elliott", o Sr. Olivaras gesticulou para o garoto. "Meu filho também começa Hogwarts este ano. A oitava geração de Olivaras a frequentar a escola. Um dia, ele assumirá os negócios da família."
"Prazer em conhecê-lo", disse Geraint Ollivander, com a voz suave, mas confiante. "Pai, posso observar o processo?"
"Claro. Aprenda bem", respondeu o artesão, virando-se para Raphael. "Muito bem, jovem Elliott. Vamos encontrar sua varinha. Ou melhor, deixe que ela encontre você."
O Sr. Olivaras tirou uma fita métrica prateada do bolso. "Qual é o braço da sua varinha?"
"Sou destro", respondeu Rafael, estendendo o braço direito.
A fita métrica ganhou vida, medindo não apenas seu braço, mas também sua altura, circunferência da cabeça e até a distância entre suas narinas, enquanto o fabricante de varinhas caminhava entre as prateleiras, murmurando para si mesmo.
"Cada varinha de Olivaras tem um núcleo feito de uma substância mágica poderosa, Sr. Elliott", explicou ele enquanto selecionava algumas caixas. "Usamos corda de coração de dragão, pena de fênix e pelo de unicórnio. Não há duas varinhas de Olivaras iguais, assim como não há dois dragões, fênix ou unicórnios iguais. E, claro, você nunca obterá resultados tão bons com a varinha de outro mago."
Ele voltou com cinco caixas e as colocou no balcão.
"Vamos começar com este: pelo de bordo e unicórnio, 25 centímetros, flexível."
Raphael pegou a varinha, mas antes que pudesse movê-la, o Sr. Olivaras a tirou de sua mão.
"Não, não. Esta não", murmurou ele, abrindo outra caixa. "Talvez carvalho e fibra de coração de dragão, trinta centímetros, rígida."
Raphael mal havia tocado na varinha quando ela foi novamente arrancada de sua mão.
"Esse também não... interessante..."
O processo continuou com mais três varinhas, cada uma rejeitada mais rapidamente que a anterior. O Sr. Olivaras não parecia frustrado – pelo contrário, seu interesse parecia aumentar a cada tentativa.
"Um cliente exigente", ele comentou com um leve aceno de cabeça.
Desta vez, ele desapareceu entre as prateleiras por mais tempo, retornando com uma única caixa que parecia mais velha que as outras, coberta por uma fina camada de poeira.
"Teixo e pena de fênix, trinta centímetros e meio, flexibilidade média", anunciou ele, abrindo cuidadosamente a caixa. "Uma combinação incomum, poderosa. O teixo tem uma reputação sinistra em algumas tradições, mas injustamente. É uma madeira de vida e morte, transformação e renascimento."
Algo na descrição fez Raphael estremecer involuntariamente. Vida e morte. Transformação e renascimento. Não poderia haver descrição mais adequada para sua situação.
Quando seus dedos tocaram a varinha, ele imediatamente sentiu a diferença. Um calor agradável se espalhou de seus dedos, subiu pelo braço até o peito, onde pareceu se conectar diretamente com sua essência mágica. Ele ergueu a varinha e fez um movimento suave. Um jato de faíscas douradas e azuis disparou da ponta, dançando como pequenas estrelas no ar antes de desaparecer.
"Sim", disse o Sr. Olivaras com um aceno de aprovação. "Este aqui claramente escolheu você. Uma varinha excelente para transformação e trabalhos mágicos complexos. Espero bons resultados de você, Sr. Elliott."
Geraint Ollivander, que estava observando atentamente todo o processo, deu um passo à frente.
"As faíscas eram douradas e azuis", comentou ele com interesse científico. "Essa combinação é incomum."
"As cores das faíscas raramente são relevantes", interrompeu o Sr. Olivaras, embora seu olhar permanecesse fixo em Rafael, curioso. "Mas elas certamente podem refletir aspectos da natureza mágica de um mago."
Enquanto Eduardo pagava os sete galeões pela varinha, Rafael e Geraint trocaram olhares curiosos.
"Em qual casa você acha que vai ficar?" perguntou Raphael.
"Corvinal, provavelmente", respondeu Geraint. "Todos os Olivaras vão para lá. O conhecimento sobre varinhas exige uma mente analítica."
"Talvez nos encontremos lá", respondeu Raphael sem se comprometer.
O Sr. Olivaras embrulhou cuidadosamente a varinha em papel pardo.
"Só mais uma coisa, Sr. Elliott", disse ele, entregando o pacote. "Varinhas de teixo são raras e escolhem magos especiais. Esta varinha esperou muitos anos. Cuide bem dela."
Quando saíram da loja, o sol já começava a se pôr, lançando longas sombras sobre o Beco Diagonal. Raphael segurava o pacote com sua varinha como se fosse o objeto mais precioso do mundo. De certa forma, era mesmo.
"O que você achou do filho do Sr. Olivaras?", perguntou Eleanor enquanto caminhavam de volta para o Caldeirão Furado.
"Ele parece interessante", respondeu Raphael. "Diferente do garoto negro."
"Você conhecerá muitos tipos de pessoas em Hogwarts", comentou Edward. "Faz parte do aprendizado."
Raphael assentiu, pensativo. A visita ao Beco Diagonal tornara tudo real. Em poucos dias, ele estaria a caminho de Hogwarts, o lugar que seria seu lar pelos próximos sete anos. O lugar onde ele realmente começaria a se preparar para sua missão.
Ao ajustar o pacote da varinha debaixo do braço, sentiu o calor reconfortante que emanava dela, como se a varinha também estivesse ansiosa para começar. Teixo e pena de fênix. Vida e morte. Transformação e renascimento.
Sua jornada estava apenas começando.