A chuva caía pesada sobre a cidade, lavando os telhados dos casarões nobres como se tentasse purificá-los.
No centro da capital, o grande sino da catedral dobrava pela morte de Eleonora d'Averill.
Os cidadãos murmuravam em voz baixa, escondendo sorrisos por trás das máscaras de luto. Poucos realmente lamentavam sua morte.
No final das contas, ela foi uma vilã até o último momento.
— Ouvi dizer que tentou assassinar Lady Amélia... Que garota desprezível. — cochichou uma dama, ocultando sua curiosidade sob o véu negro.
— O próprio Duque d'Averill a sentenciou.
— Dizem que ela não demonstrou arrependimento algum… morreu com um sorriso no rosto.
Até mesmo sua morte fora decidida por mãos frias e impiedosas. O próprio Príncipe Herdeiro garantiu que seu fim fosse o pior possível.
— Morrer é um destino justo para alguém como ela.
SCREEEEEECH!
O som de um acidente brutal.
Vidros quebrando. O baque metálico da colisão. O mundo girando e então...
Silêncio.
Evelyn sentia tudo se dissolvendo.
Uma garota comum. Uma vida comum. E em seus últimos momentos, tudo o que queria era assistir à nova temporada da sua novel favorita.
Mas não havia tempo.
A realidade se partiu como vidro.
Escuridão.
Fria. Silenciosa.
Ela não sabia onde estava. Não havia chão sob seus pés. Não havia ar. Só a solidão esmagadora da morte.
Mas então, um estalo.
Uma rachadura invisível se abriu. Algo puxou seu corpo para frente. E então—
Ela abriu os olhos.
O teto não era familiar.
As paredes, a cama, o perfume no ar... luxo, elegância, riqueza.
Ela estava em um quarto luxuoso.
Um quarto que não era seu.
O coração de Evelyn — ou seria Eleonora? — apertou. O medo correu por sua pele, deixando-a trêmula. Ela puxou os cobertores pesados de veludo, levantou-se da cama e caminhou hesitante até um grande espelho branco.
E então ela viu.
Uma jovem de catorze anos a encarava de volta.
Cabelos loiros longos, com uma franja branca.
Olhos azuis esverdeados, profundos e gélidos.
Uma beleza impecável, digna da mais cruel das vilãs.
Evelyn estremeceu.
— Não… pode ser…
A verdade caiu sobre ela como um peso impossível de carregar.
Ela reencarnou.
Ela era Eleonora d'Averill.
A vilã que teve um fim desprezível.
A vilã que todos odiavam.
A vilã que estava destinada a morrer.
O pavor tentou dominá-la, mas então, algo dentro dela mudou.
Ela fechou os punhos.
Determinada.
Se nesta vida ela havia renascido como Eleonora, então ela mudaria seu destino.
Dessa vez…
Talvez… só talvez…
Ela pudesse ser feliz.